Querida Esposa!

Não consigo lhe escrever de caneta e papel, pois a minha ortografia é um desafio para a ciência, foi sempre um problema com o professor de língua portuguesa, aquele professor Djohanes, aquele que em tudo queria perfeição.

A minha ortografia é facilmente reconhecida e descoberta quando passo o nome de um fármaco (medicamento) e uma receita de burla, as iniciais e finais fazem o farmacêutico - claro como luz.

Como advento do computador, salvei, a minha alma aliviou-se de tanta cópia de melhoria de caligrafia que eu sofria enquanto pequeno na escola primária, salvei dos carolos do meu pai, dos berros da minha mãe: Kherra a tua caligrafia é feia, parece um serpentear, vai fazer cópia, tens que terminar esse livro durante a semana.

Perdoe-me, eu queria escrever com tinta a óleo em uso no meu coração, de que eu te amo do meu jeito, daquele meu jeito estranho de ser homem, o meu jeito que poucos entende, um jeito confuso de amar, o jeito de amar de um homem de sete vidas, um homem que tudo na vida é um mistério, é um segredo, o jeito de amar do além, o jeito de amar que nem o inventor do amor sabe fazer a réplica.

Não é minha natureza esperar que me deem liberdade para falar. Eu falo mesmo sem a língua e de rosto vendado, assim eu te reconheceria mesmo que fosse cego, não espero pelo pouco que há de essencial na vida para ficar ao teu lado, ao teu lado se pudesse eu ficaria todo o dia e toda a hora, toda a vida, mais o oficio me impede.

Sendo liberdade uma delas, eu mesmo me concedo, me concedo de assumir que o que sinto por ti, nem Camões saberia descrever, oh até ele o próprio Camões saberia que eu sou o seu adversário.

Ser livre não me ensinou a amar direito, se por direito e nhanhar entende-se este amor pré-estabelecido, deve ser que eu te conheci no além, lá no Oeste do Rango, lá onde Rango matou seis gajos com uma bala só, e o sétimo foi de enfarte.

Esse amor me guia, me baralha, me pica tipo piri-piri, mais me ensinou as delicadezas e sutilezas do sentimento que porto por si, que, afinal, é o que caracteriza e o torna pessoal e irreproduzível, que até Camões diria: Puto me ganhaste, você hiiiii, nada.

Te amo muito, até quando durmo algo ilumina-me e atiça essa doença de te amar, e depois acordo com babalaza de jajão, babalaza que a sopa do "remédio" do miramar não cura, até nem com uma coca-cola gelada, hi eu não percebo essa forma de amar.

O amor que sinto pode parecer estranho, e é por isso que o reconheço como amor da Beira, aquele com sabor a malola e mapape, até do sabor da Tainha que comia com Hélder Pichem na mangueira grande do quintal.

Hi esse amor de mapape que anima tipo galinha cafreal, pois não há amor universal: não, minha modesta amada.

Não há um amor internacional, assim como são proclamados os estados e independências do mundo e a autodeterminação dos povos e cidadãos do mundo, cada um tem sua cidadania e nacionalidade, mais nosso amor anima maningue, ya é da beira mesmo, hi da manga, ham somos manguendas.

Cada pessoa e cidadão, um coração, e em cada um deles, códigos decifráveis e delicados. Se não é este amor que queres, não queres amor, queres romance, este sim, divulgadíssimo, não queres prosa. Meu amor, a prosa dá um espaço de reflexão e inovação.

De romance não sou bom minha doce amada, pareço ser bom de “esconde-esconde”, tipo aquela brincadeira enquanto criança, mais eu e você nos recordamos das entradas no seu quarto as 22h00 e saída as 04h00, era esconde-esconde de adultos apaixonados, tipo loucos.

Esta declaração não chegará com toda velocidade como uma bala de AK47, como não chegarão ao seu entendimento estas palavras risíveis, estes conceitos que aos outros soariam como desculpa de um homem aventureiro na futura "terra dos al-Shabaab" ou até mesmo copy and past, já que não há originalidade na ideia do amor, muito difundida, porém bastante censurada pelos seguidores de Camões e Roberto Carlos.

Serei o que quiseres em teu pensamento, tampouco me entendo, mais sinto-me livre para dizer: te amo muito, sem rendimento, aceso, amor sem formato, quase como Camões, sem altura ou peso, amor sem conceito, aceitação, impassível de julgamento, aberto, incorrecto, amor que nem sabe se é este o nome direito, amor, mas que seja uma coisa do coração, uma coisa do Kherra, uma coisa da banda do pinto, da vila massane, e do pequeno brasil.

Mais quero que saibas que eu gostaria de ser o melhor homem para si, mais a minha vida de ninja não me deixa ser um ser humano comum.

Pareço uma cópia sem original.

Te amo muito!

Kherra Mauricio
Enviado por Kherra Mauricio em 17/05/2020
Código do texto: T6949931
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