REALIDADE e MUDANÇA (Crônica)

Exercitando relação pensamento-escrita.

Quando o real (Natureza) impõe sua lei sobre a constituição da realidade humana o discurso precisa ser adequado. Discurso assim como a realidade são invenções humanas, históricas, produtos culturais. Não existem na natureza.

Se a Natureza tem lei própria que a rege, não sabemos os movimentos e engrenagens que coordenam esta lei. Se ela, a Natureza, tem comunicação própria – diferente da cultural – também não é possível afirmar como ela é. Especula-se. Quando se investiga sobre comunicação entre abelhas, formigas e mesmo acerca das reações entre plantas, infere-se a existência de algum tipo de comunicação. Acredita-se, há um consenso de que há comunicação fora do âmbito humano. Há outro consenso de que não há organização da linguagem em forma de signos fora da cultura humana. Animais e plantas se comunicam, mas não criam (criaram) signos para isso. O conjunto de sinais que animais e plantas usam seria dado pela Natureza. Talvez sim. Talvez não...

Voltando à realidade humana, regida por elementos de linguagem (os diferentes signos), que permitem a comunicação dos fatos e fenômenos (realidade) entre e pelos sujeitos, é fácil identificar que o elemento (Discurso) que mobiliza toda engrenagem da comunicação modifica-se ao longo da história. Pesquisadores tendem considerar alguns símbolos como dinâmicos ou mesmo vivos (tem vida própria). Exemplo: ‘as palavras tem poder’.

Talvez não sejam adequados os enunciados ‘a realidade produz o discurso’ ou ‘o discurso produz a realidade’. A ‘relação’ entre sujeito e objeto é fato. Sem alguém que pensa sobre algo pensável seria impossível o conteúdo do discurso. O que me faz refletir e inferir algo significativo é que na relação entre o discurso (sujeito) e a realidade (objeto) prevalece o poder do primeiro.

Poder significa domínio. As mudanças que ocorrem ou são promovidas no discurso que representam a realidade são frutos de relações de poder. De forma didática, o poder significa alguém que diz como outro deve pensar, viver e agir. Todo discurso é produzido desta forma. Estamos todos envolvidos na produção do discurso. Exercemos poder e somos afetados pelo poder. Não há ninguém que não exerce algum tipo de poder assim como não há ninguém que não esteja submisso a algum tipo de poder.

Na sociedade atual os discursos são ambíguos. No mínimo. Penso que estamos construindo uma ‘Torre de Babel Moderna’. Não é simples apontar em que ponto situa-se uma verdade em discursos contraditórios sobre um mesmo fato. Nem mesmo distinguir entre duas percepções sobre uma mesma variável da realidade com qual está a razão. Chegaremos ao ponto de ninguém mais entender ninguém? Será uma guerra entre discursos?

No discurso político e de políticos, então, construir compreensões de uma verdade parece ser missão muito difícil. Contraditórios, ideológicos ou mesmo fantasiosos beirando a insanidade em relação a alguma epistemologia que os valida, são estes discursos que constituem as diferentes realidades no contexto social. Pessoas costumam acreditar em suas bases, em seus lideres, em suas leituras de livros e de mundo. Se estas bases são políticos ou mesmo pessoas que tem poder de opinião, grupos sociais inteiros podem ser ludibriados a partir de produções de discursos ideologicamente intencionados para enganar: assim ‘PF’ pode não passar de um prato de comida para uma massa que não tem poder de análise e critica diante das variáveis discursivas constituintes das realidades.

Para compreender a realidade precisa-se entender antes como funciona o discurso que produz os fatos sobre a realidade. Estamos longe disso.