ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO 2
JOTA EFEGÊ ESCREVE SOBRE ANTÔNIA MARZULLO
Nelson Marzullo Tangerini
No dia 25 de abril de 1983, o memorialista Jota Efegê [pseudônimo de João Ferreira Gomes], autor do belíssimo livro “Meninos eu vi”, publica na página 22 do Segundo Caderno do jornal O Globo, belíssima crônica sobre a atriz Antônia Marzullo.
Como de costume, escreve o sobrenome de nossa família com apenas um L. Diz o ditado que cavalo dado não se olha os dentes, o que quer dizer que, pelo menos, algum jornalista neste país se lembrou da grande estrela do teatro brasileiro, Antônia Marzullo [com LL].
Abaixo, reproduzimos o texto deste grande vulto do jornalismo brasileiro:
“PRESENÇA DE ANTÔNIA MARZULLO
NO TEATRO E NO CINEMA DO BRASIL
A hoje pouco lembrada, e talvez esquecida, Antônia Marzullo, que foi figura de destaque em nossos teatros, deixou, porém, mantendo a tradição de seu nome, as filhas Dinorah e Dinah Marzullo.
A Dinorah, tem presentemente sua filha Marília Pêra em grande evidência, devido as suas excelentes apresentações, suscitando averiguações que permitem ir ao encontro do nome da vovó Antônia. Foi esta quem, lançando as filhas na ribalta ao seu lado, incutiu-lhes o veneno do palco. E a descendência permaneceu, como teria que acontecer, mantendo a fidelidade à origem. Antônia Marzullo merecia, portanto, que a relembrassem.
Operária de uma fábrica de camisas, na qual também trabalhava Alda Garrido que, igualmente, como a colega Antônia, brilhou no teatro, ambas, no rumo que seguiram, tornaram-se vitoriosas. Por muitos anos, recebendo um o incentivo de platéias numerosas, que com palmas demoradas certificavam-na, no momento, do agrado de seu desempenho, depois consolidado nas referências da crítica, Antônia permaneceu no teatro. Lançando também as filhas Dinorah e Dinah tiveram, as três, aplausos com fartura ao cair do pano. Assim, as Marzullo, a mãe Antônia e as filhas, solidificaram a dinastia Marzullo. Ainda agora, Marília Pêra, de origem Marzullo, prossegue a tradição iniciada pela avó Antônia.
A presença de Antônia Marzullo, em diversos palcos e interpretando inúmeras peças, teve sempre, marcando-a, merecido destaque. Das muitas peças em que atuou merece destaque, sem minuciosa procura no total, pois foram muitas, a comédia As solteironas dos chapéus verdes (Les dames aux cheapeaux verts), de Germaine Acrement, traduzida por Alberto Queiroz.
Antônia Marzullo, que desempenhava uma das solteironas, tinha, sempre, palmas de muito calor consagrando-a. E isto aconteceu em 1932, no Trianon, em 1934, no Carlos Gomes. Aplausos igualmente demorados que voltou a tê-los, nesse mesmo ano, no Teatro Escola, ao lado de Renato Viana, interpretando a peça Sexo, da qual Renato era o autor.
Não se restringiu apenas ao teatro a carreira vitoriosa de Antônia Marzullo. Também no Cinema Nacional, ainda em seus primeiros anos, depois do lançamento, em 29, do primeiro filme falado Acabaram-se os otários, Humberto Mauro recrutava, em 34, Antônia Marzullo para participar de Favela dos meus amores, quando levou para a tela um argumento de Henrique Pongetti. Nesse mesmo ano, num dos pavilhões onde havia sido realizada a Feira de Amostras (conforme a oportuna informação do expert do cinema nacional Jurandyr Noronha) estava na filmagem também naquele local, sob direção e protagonizado por Mesquitinha (Olympio Bastos), o filme João Ninguém, tendo no elenco Dinorah Marzullo, Rodolpho Mayer e Jayme Costa.
Acontecia, assim, não apenas no palco, mas, igualmente, no cinema, a presença de Antônia Marzullo, juntando seu nome aos primórdios do cinema brasileiro. E, também aí, tendo a seu lado outra Marzullo, a filha Dinorah, que, casando com o ator Manuel Pêra, iria manter a tradição na hoje consagrada Marília Pêra, neta de Antônia Marzullo. Figura marcante no teatro através de excelentes desempenhos, a velha Antônia – como carinhosamente a ela se referiam todos os que a conheceram nas ribaltas -, merecia essa suscinta rememoração, tardia embora, mas que, mesmo assim vale como justa homenagem.
Antônia Marzullo, figura de destaque em nosso teatro foi, e isto pouca gente sabe, ou lembra, umas das primeiras figuras do cinema brasileiro quando, precariamente, gente como essa Marzullo, vitoriosa na ribalta, trazia sua contribuição para o triunfo que o cinema nacional acabou alcançando.”
Emocionado, escrevi uma carta para o senhor Jota Efegê, agradecendo-lhe por ter se lembrado de minha querida avó, mas corrigindo-o, porém, sobre a questão de nosso sobrenome.
O jornalista me telefonou e alegou que escreveu Marzullo com apenas um L porque, na língua portuguesa, não há letra dobrada. Enfim, coisas de nacionalista empedernido, que me fizeram lembrar do major Policarpo Quaresma, personagem criado pelo inesquecível Lima Barreto.
Respondi-lhe que um sobrenome de família não pode ser mudado, como no caso do poeta surrealista português Alexandre O´Neill, que, até hoje, mesmo depois de morto continua com seu nome inalterado. O sobrenome de numerosa família O´Neill, de origem irlandesa, continua com a mesma grafia, como podemos ver na lista telefônica ou, hoje, na internet.
Antônia de Oliveira Soares Marzullo nasceu Rio de Janeiro, DF, a 13 de junho de 1894, e faleceu no Rio de Janeiro, GB, a 25 de agosto de 1969, deixando três filhos: Maurício Marzullo, advogado e poeta, Dinah Marzullo Tangerini, ex-atriz de teatro, e Dinorah Marzullo Pêra, atriz de teatro, televisão e cinema, filhos dela com o italiano Em´lio Marzullo.
Era filha do português Manuel Gomes Soares e da brasileira Rufina de Oliveira Soares.
NMT.