desabafo de um apreciador de vinhos
Nada mais corrobora a certeza da dúvida do que a própria dúvida. Esse breve e descontraído, aparente, descompasso do que pretendo dizer, me leva a enunciar algo que me escapou tão logo pensei em dizer. Assim, sem pretender ditar normas ou formas de comportamento - a isso, penso, mais adequado aos candidatos a ditadores -, não me apraz transigir naquilo que valorizo mais que minha própria vida. Assim colocado,sei, para desgosto dos anunciadores de boas maneiras, não lhe deixarei outra alternativa senão, e apenas, expor o que pensa e se preparar para o que poderá advir. Eu sei que dito dessa maneira direta e sem possibilidade de rodear o que me parece evidente dizer, acredite, faço sem outra intenção senão de poder conhecer as razões de suas exposições. Ora, - direis, quem sabe, num tom que lembrasse aquele magnífico cantor trovador e representante da alma brasileira, que o escopo dessa nossa possibilidade de diálogo se esgote tão logo nos coloquemos face to face - para recordar sua queda por tudo que venha da América - para que se esclareça a loucura que é seu plano e desejo mórbido pelo poder. Não ignoro, todavia, que não estamos e não dispomos dos mesmos meios que poderiam permitir nosso encontro. Acrescenta-se a isso outro fator, tão reverenciado por alguns dos seus, que impossibilita o encontro. Refiro-me ao fato de que sua visão de mundo e de humanidade impede qualquer tentativa de entender cada palavra que pronuncia carregada de rancor e ódio para com o que desconhece. Nesse aspecto, nada poderá ser dito a não ser lamentar, pois, se há algo que torna nossa espécie bela, é o fato de determos o poder do uso da razão. Todavia, como tudo na vida, há pontos fora da curva e, nesse aspecto, não há como negar se tratar de um caso para estudo psicológico. Ao ouvir essas palavras, não pude deixar de notar, que o homem que acabara de pronunciar tais questionamentos ao amigo ao lado, desceu do coletivo, com lágrimas nos olhos e sumiu na noite fria de inverno de São Paulo.