2012

Atualmente vivo uma vida ilusória. Trabalho na VIVO e vejo histórias repentinas de pessoas que também não gostam do que fazem. Além disso, deparo-me diariamente com clientes obstinados a resolver o problema de maneira rápida e eficiente.

Pela manhã, depois do café, reiniciei uma rota de ônibus até a cidade vizinha a trabalho. Deus sempre me concede a capacidade de admirar o efeito da estrada velha, a claridade com um violento traço de cinza e o gramado um tanto firme. Pela janela consigo alcançar a fantástica e incrível aventura que é viver.

Sou consciente dos meus pequenos progressos diários. Minha contribuição como escritora cresceu com uma bela visão a perceber cada detalhe da criação como uma obra em que Deus colocou sua assinatura.

Com o tempo comecei a compreender que nada é por acaso. Minha chegada ao trabalho rendeu um grande problema na primeira ligação. Cristina, era a pessoa oportuna que fez-me encarar a vida sob uma perspectiva que jamais havia imaginado.

Quando atendo cliente dificilmente imagino o aspecto físico, pois não o vejo. Apesar da voz revelar tantas coisas, dou valor a intuição, mas, as decisões, eu as tomo com a mente, e não com o coração. É minha responsabilidade. Para sair de um problema, você tem de mudar sua estrutura mental. Por que sempre buscamos a solução onde ela não se encontra? Ou seja, nos outros? A vida nos coloca à prova todos os dias, esperando uma resposta consciente.

Cristina revelou total desgaste emocional ao ligar onze vezes para a operadora de telefonia do estado de São Paulo. Um erro pode servir para descobrir um novo caminho, que ao final é o correto. Todo o infortúnio esconde uma oportunidade.

Eu a atendi, com total paciência, aprendi naquela ligação a identificar duas faces de uma mesma moeda. Cristina, estava atordoando o meu velho modo de ver o atendimento escasso, e isso me desconcertou. Eu era a buscadora de respostas, de soluções técnicas no âmbito do atendimento. Contudo, estava tão obcecada em encontrar respostas que, quando apareciam, havia me esquecido o quanto aquela mulher chorava devido a um problema com o seu sinal de TV. Parecia que o coração de Cristina se partia em dois pedaços quando pedia que a mesma aguardasse.

Chamou-me a atenção o fato de Cristina dizer que não tinha tempo o suficiente para assistir desenhos com o seu único filho, pois trabalha numa agência de carros. Esclareceu que o momento de assistir o desenho preferido do filho a fazia tão feliz quanto viajar nas férias. O caso dessa cliente podia ser resolvido de maneira simples, se a operadora em questão se empenhasse em realizar o trabalho com qualidade. Visto que, a empresa falou onze vezes com essa cliente e não havia dinheiro no mundo que pudesse recuperar as horas perdidas no telefone.

A voz de Cristina me atravessou de lado a lado, de cima a baixo, e me inundou. Sei que não a vi, mas senti como se ela envolvesse todo o meu ser. Então resolvi acompanhar seu caso e alcançá-lo com qualidade. Definitivamente abandonei a zona de conforto e enfrentei o sistema. Entrei em contato com Cristina por e-mail, celular, telefone de recado, telefone do trabalho e fixo por dias e dias, até conseguir sanar todos os seus problemas.

“O número chamado não existe”. A voz pré gravada repetiu várias vezes a mensagem. A partir daí aprendi que a criação mais bonita de que sou capaz é oferecer de presente um sorriso, uma ajuda ou um gesto de amor a outra pessoa. E assim posso contribuir com a beleza e perfeição do dia.

Quando você maltrata um cliente, você perde não uma, mas duas vezes. Como profissional e como pessoa. Cristina ensinou a mim que o ato de ajudar pode me favorecer, pois renunciei os meus pensamentos privados e não perdi minha identidade. E então pude perceber uma enorme paz interior…

H Hevilyn
Enviado por H Hevilyn em 16/05/2020
Reeditado em 25/02/2023
Código do texto: T6949103
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