O Deus que eu desconheço
[2017]
Eu gostaria de escrever uma carta para a Deus, mas acredito que eu não precise – esse é o poder da oração. Eu gostaria muito de saber se estou errada em discordar com tanta “bobagem” que escuto de pessoas que os servem ou usam seu o nome para se beneficiar de algo.
Quando um evangélico diz: “bandido bom é bandido morto”, meu coração dói. Será que o coração de Jesus Cristo também? Eu gostaria de conseguir compreender certos pensamentos e sentimentos que fogem da minha lógica. Mas ao mesmo tempo, me sinto culpada como se eu estivesse contra a igreja.
Assumo que me interesso muito mais pela a derrota da igreja evangélica na política que com a sua vitória. A igreja evangélica é um problema muito sério. Sabemos que há uma grande diferença entre “evangélico” e “protestante”. O protestante tem quinhentos anos e o evangélico cresceu no século 20. Martin Luther King era batista, mas o Bolsonaro também é. Ambos são batistas, mas pertencem a instituições que não dialogam entre si.
Fica difícil pra quem está de fora entender isso. Mas o conhecimento é algo fantástico, a liberdade de dialogar também. E, ainda bem que eu sai desse ciclo de religiosidade capaz de me aprisionar a paradigmas. Jesus é liberdade! Tem um Deus, na teologia neopentecostal, empenhado em fazer muitos milagres na vida do fiel, dando a ele carro, casa, celular, vestido caro, mas não é um Deus muito interessado em resolver problemas sociais.
Eu me questiono com Jesus Cristo se estou errada em pensar que a religião não é lei. Também me questiono se eu estou errada em não concordar com a bancada evangélica que é contra temas como igualdade de gênero, casamento entre pessoas do mesmo sexo, direito ao aborto, igualdade racial, eutanásia. Sendo que, a minha crença não é a mesma crença que dessas pessoas, vivemos em um Estado Laico.
Sinceramente, não me recordo de Jesus Cristo sendo preconceituoso, violento e julgador. Jesus era um comunista, um esquerdista. Jesus estava ao lado das causas sociais, estava ao lado dos pobres, dos estrangeiros, refugiados, dos pecadores e discriminados pela a sociedade.
Fico triste quando escuto meus pais e meu irmão apoiando as falas de Bolsonaro e dos demais. É nessa hora que dobro os meus joelhos e faço uma reflexão: Jesus Cristo, esses homens são realmente os seus seguidores? Eles pensam como você pensa? Eles agem como você age?