CARICATURAS CUBISTAS DE NESTOR TANGERINI 5

CARICATURAS CUBISTAS NO ARQUIVO DA CIDADE

Nelson Marzullo Tangerini

Consta de meu arquivo uma entrevista que concedi ao jornal Gazeta do Povo, em 25 de julho de 1984, quando montei a Exposição Caricaturas Cubistas de Nestor Tangerini, no Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro.

Vale a pena registrá-la, bem como fazer algumas correções, no final:

“OBRAS DE NESTOR TANGERINI NA GALERIA AUGUSTO MALTA

Carlos Alberto Lima

Será inaugurada hoje, às 18 h, na Galeria Augusto Malta, no Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, a exposição de caricaturas do artista Nestor Tangerini. A mostra, que se estenderá até o fim de 16 de agosto, de segunda à sexta-feira, das 8 às 17 horas, na galeria que fica à Rua Amoro Lima, 15, Cidade Nova, tem o apoio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e busca restaurar a memória de um artista pouco conhecido do público, embora tenha dedicado sua vida às mais variadas formas de manifestações artísticas.

MÁGOA

Nelson Tangerini, filho do artista, dono do acervo e organizador da exposição, se diz magoado pelo esquecimento e com muitos amigos de seu pai, entre eles o ator Grande Otelo, que atuou em várias peças escritas por ele. “As pessoas o conhecem, mas o reconhecem. Uma vez, falando sobre teatro, na TVE, Grande Otelo esqueceu de citar o nome deu pai”. “Certa vez”, diz Nelson, “a família teve de entrar na justiça, a fim de receber os direitos autorais da Rede Globo, pois os programas utilizaram fragmentos de suas obras sem autorização. Depois de longa demanda, a Globo pagou tudo”.

Entretanto, ele afirma que nem tudo são tristezas, pois, ano passado, um amigo de seu pai, Herivelto Martins, citou-o num programa de televisão, fato que o deixou muito feliz.

O AUTOR

Nestor Tambourindeguy Tangerini é o nome completo do artista, que nasceu em São Paulo, na cidade de Piracicaba, a 23 de julho de 1895, e faleceu a 30 de janeiro de 1966, no Hospital dos Servidores do Estado da Guanabara, vítima de câncer. Aos dois anos, seguiu com os pais em viagem pelo Brasil e Europa. Iniciou os estudos em Manaus, prosseguiu-os em Belém e veio termina-los no Rio de Janeiro, onde foi aluno do Mosteiro de São Bento e Colégio Pedro II. Entrou para os cursos de Direito, no Rio, e Farmácia, em Niterói; largou ambos para se dedicar ao artista que trazia dentro de si. Casou-se com a ex-atriz de teatro Dinah Marzullo, com quem teve três filhos: Nirton, Nirson e Nelson. Chefe de família, empregou-se no Departamento de Correios e Telégrafos, onde se aposentou após ter dirigido a Escola de Aperfeiçoamento daquele órgão. Nestor Tangerini foi sepultado no jazigo da família, no Cemitério São João Batista.

A OBRA

Nestor Tangerini rapidamente se destacou como grande conhecedor da língua e por ter rara sensibilidade para construção poéticas. Tangerini, como era conhecido, por seus inúmeros amigos do meio artístico, escrevia para diversos jornais, entre eles o Diário da Noite, Diário Fluminense, A Noite, etc.; fundou com amigos várias revistas de arte como Royal Revista e A Maçã, O Espeto, etc. e como teatrólogo, ganhou o respeito de toda a classe teatral, escrevendo para o gênero “revista” uma série de peças que foram sucesso na época. Além disso, era pianista, jornalista, poeta, compositor [teve como parceiros Benedito Lacerda, Ronaldo Lupo, entre outros], cronista [assinava com pseudônimos como: Dom T, XX Mirim, Conselheiro Armando Graça, Bergamota, e João da Ponte [prevendo, talvez, a Ponte Rio-Niterói?, pois, nessa época, morava do outro lado da baía], e caricaturista, o único a usar o cubismo como forma de expressão, onde deixou um amplo quadro da Revolução de 1930, que foi a maior fonte para a inspiração de seus trabalhos.

Sem dúvida, é uma grande oportunidade para o público conhecer não só a obra de um artista dotado de tão grandes qualidades. Como também de apreciar e aprender, com seus desenhos, as particularidades dos políticos da década de 1930. Além disso, entrar em contato com o estilo tão ímpar, o cubismo, na elaboração de caricaturas no Brasil”.

Preciso fazer aqui algumas correções: o ator Grande Otelo, que, depois, ternou-se um grande amigo meu, citou, no extinto programa Sem Censura, o nome do empresário Jardel Jércolis, mas não o do escritor teatral Nestor Tangerini, autor dos esquetes das peças No Tabuleiro da Baiana, Estupenda! e Gol!

Quando o jornalista Carlos Alberto Lima fala em “fragmentos”, leia-se “esquetes” inteiros de peças de Nestor Tangerini, muitos deles escritos para a Companhia Jardel Jércolis. Plágio de esquetes do escritor tornou-se uma coisa corriqueira, embora a família jamais pudesse se expressar. Tentei várias vezes ir ao programa Sem Censura, mas encontrei, sempre, as suas portas fechadas. Acho que não era bem visto naquele local, onde as pessoas me olhavam com desdém.

Sobre Herivelto Martins, fui à sua casa, na Urca, para agradecer-lhe pessoalmente pela citação do nome de Nestor Tangerini no programa do Rolando Boldrim. Tomamos café juntos e ele me falou, não só de meu pai, como também do compositor Aldo Cabral. Os dois estavam estremecidos, sem se falar, mas Herivelto falou muito bem do compositor, seu parceiro na música Bom-dia, gravada por Dalva de Oliveira.

Algumas citações do jornalista foram invertidas, e também devemos corrigi-las: Nestor Tangerini, ainda pequeno, com dois anos, mudou-se com os pais de Piracicaba, SP, para Sacramento, sul de Minas Gerais, onde nasceu sua irmã primeira irmã, Gilda, que viveu apenas algumas horas. De Sacramento, seguiram viagem para a Itália, de onde voltariam, para se estabelecer em Manaus, Amazonas, no norte do país, atraídos que foram pelo Ciclo da Borracha. Domingas Tambourindeguy, sua mãe, veio grávida da Itália e, em Manaus, nasceria sua segunda irmã, Elsa Henny.

Na capital do Estado do Amazonas, o cantor de ópera, restaurador e engenheiro Vittorio Tangerini, a convite do governador Silvino Nery, participa da reforma do Teatro de Manaus, onde canta, no dia de sua reinauguração.

De Manaus, seguem para Belém, Estado do Pará, onde Nestor Tangerini iniciaria seus estudos, não concluídos, porque a família segue viagem pelo nordeste do país, até se estabelecer no Rio de Janeiro, onde os conclui.

Em Niterói, RJ, onde morou, na década de 1920, Tangerini ingressará na faculdade de Farmácia. A vida boêmia e a esbórnia do Café Paris talvez o tenham impedido de prosseguir nos estudos. Sorte nossa, pois ganhamos um artista genial.

No final da década de 1930, Tangerini ingressa na faculdade de Direito do Rio de Janeiro, estudos que não termina, em virtude do acidente de ônibus, em que perdeu o braço esquerdo, em 1940, no Largo de Benfica. O artista ainda tentou retornar para o curso de Direito, mas não conseguiu se aprumar, em virtude do abatimento e de dificuldades financeiras.

Quanto a publicações literárias, Nestor Tangerini fundou apenas a revista de humor e sátira O Espeto, em 1947, enquanto que, na revista A Maçã, de Humberto de Campos, o poeta veria, pela primeira vez, em 1922, um trabalho seu publicado: o soneto Cousas do Rio, cujo título Tangerini mudará, posteriormente, para Cenas do Rio. Após a publicação de seu trabalho em A Maçã, a Royal Revista publica, também, sonetos de sua lavra. É incorreto, portanto, dizer que Nestor Tangerini ajudou a fundar A Maçã e a Royal Revista.

NMT

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 15/05/2020
Reeditado em 15/05/2020
Código do texto: T6948294
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.