À margem do nada
À margem do nada
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza
DECIDI PARAR. Dar um tempo em tudo. Refazer, voltar no caminho percorrido, tentar de alguma forma ressuscitar os erros cometidos para acertar o que ficou pela metade. Ou que nem metade teve. Talvez não haja mais espaço para o que planejo, porém acho que só o fato de tentar, de querer, de estar decidido, já me deixa um pouco melhor. E eu me sinto mais confortável.
Sei que cometi muitos erros e outros tantos e infindáveis desacertos. Feri, maltratei corações, pisoteei almas que só queriam o meu bem. Tudo em nome da minha mediocridade pessoal, da minha insensatez barata. Do egocentrismo bobo, da vontade de querer ser mais que os outros. Na verdade, hoje, na casa dos sessenta e sete, percebo, não somos nada.
Não passamos de terra ruim, sem o adubo da perfeição, sem o tempero certo que nos torne únicos, ou insubstituíveis. Não passamos de um punhado de barro podre, poeira que, de um momento para outro, poderá ser levado pelo vento. Estamos, na verdade, presos no espaço a um Ser Superior que nos mantém sob seu domínio, como se fossemos uma linha esticada de um extremo ao outro do destino.
Basta um movimento em falso e esse fio se arrebenta, se rompe, se parte. Partindo, lá se vai todo nosso orgulho, toda nossa pompa, toda nossa ganância e luxúria por água abaixo. Não adianta, pois, sermos mais do que somos, ou do que, por dádivas divinas chegamos a alcançar na grande voragem desse ciclo que nos movimenta, ora para um lado, ora para outro, a bel prazer do Criador de todas as coisas.
Por isso, é bom parar. E vou fazê-lo. Estancar as mazelas, dar um basta nas vulgaridades que povoam o ser. Dar um chega pra lá nos planos mirabolantes que alimentamos. Planos, às vêzes, destituídos de um fundamento sólido e, em face disso, por entendermos estarmos certas, acabarmos vencidos e desolados no fundo do poço.
A vida é tão simples, se olhada com carinho e esmêro. A vida é pura, é maravilhosa, é boa de ser vivida. Com a nossa mediocridade sem par, à flor da pele, com a nossa cegueira interior, com a nossa falta de luz e bom senso, deixamos passar momentos maravilhosos. Instantes de paz, minutos de harmonia... Trocamos todas essas quimeras ao nosso alcance por sonhos bobos, por planos herculíneos que só nos levam para o abismo da sórdida derrocada.
Dela ao fracasso, com certeza, um pulo. Derrota e fracasso andam de mãos dadas, estão sempre dispostos a nos passar uma tremenda rasteira E acreditem, caros amigos, se não formos espertos o suficiente, acabaremos de mãos vazias, o coração combalido, a alma entristecida, e pior, com uma vida pela frente, uma vida que poderia ter sido melhor, muito melhor do que foi.
(*) Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo.
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