O MITO

O MITO DA CAVERNA

Quando Platão nos presenteou com sua obra, “O MITO DA CAVERNA”, ele antevia o que hoje vivenciamos à flor da nossa pele. A República. O diálogo travado entre Sócrates, personagem principal, e Glauco, seu interlocutor, visa a apresentar ao leitor a teoria platônica sobre o conhecimento da verdade e a necessidade de que o governante da cidade tenha acesso a esse conhecimento.

Na exata proporção dessa metáfora, Platão nem imaginava, que, aqui e agora, neste canto do século XXI, o homem dá-se ao luxo de viver entocado, amarrado num gueto dentro de uma funda caverna!

E, lá, ele faz uma leitura de sombras informes, que lhe enganam o tempo todo, a projetarem-se nas paredes dessa grande caverna. Prisioneiros dentro dessa caverna metafórica, eles ouvem os ruídos e os movimentos do lado de cima, produzidos por uma grande fogueira!

Repentinamente um prisioneiro consegue escapar e sair da caverna, e percebe a infinidade do mundo fora da caverna! Platão está dispondo, hierarquicamente, os graus de conhecimento com essa metáfora e falando que existe um modo de conhecer, de saber, que é o mais adequado para se pensar em um governante capaz de fazer política com sabedoria e justiça.

Em certa medida, o mito Bolsonaro, assim chamado pelos homens da caverna, reflete um pouco dessa visão distorcida de dentro de um gueto. O presidente é a figura salvadora, na visão desses prisioneiros que vislumbraram a possibilidade de sair da caverna, e contar com um governante capaz de fazer política com sabedoria e justiça, como diz acima o texto referido às ideias de Platão!

A metáfora proposta pela “Alegoria da Caverna” pode ser interpretada da seguinte maneira:

1. Os prisioneiros: os prisioneiros da caverna são os homens comuns, ou seja, somos nós mesmos, que vivemos em nosso mundo limitado, presos em nossas crenças costumeiras.

2. A caverna: a caverna é o nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.

3. As sombras na parede e os ecos na caverna: sombras e ecos nunca são projetados exatamente do modo como os objetos que os ocasionam são. As sombras são distorções das imagens e os ecos são distorções sonoras. Por isso, esses elementos simbolizam as opiniões erradas e o conhecimento preconceituoso do senso comum que julgamos ser verdadeiro.

4. A saída da caverna: sair da caverna significa buscar o conhecimento verdadeiro.

5. A luz solar: a luz, que ofusca a visão do prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, é o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.

Trazendo a Alegoria da Caverna para o nosso tempo, podemos dizer que o ser humano tem regredido constantemente, a ponto de estar, cada vez mais, vivendo como um prisioneiro da caverna, apesar de toda a informação e todo o conhecimento que temos a nossa disposição.

As pessoas têm preguiça de pensar. A preguiça tornou-se um elemento comum em nossa sociedade, estimulada pela facilidade que as tecnologias nos proporcionam. A preguiça intelectual tem sido, talvez, a mais forte característica de nosso tempo. A dúvida socrática, o questionamento, a não aceitação das afirmações sem antes analisá-las (elementos que custaram a vida de Sócrates na antiguidade) são hoje desprezados.

A política, a sociedade e a vida comum deixaram de ser interessantes para os cidadãos do século XXI que apenas vivem como se a própria vida tivesse importância maior que a preservação da sociedade. As notícias falsas estão enganando cada vez mais pessoas que não se prestam ao trabalho de checar a veracidade e a confiabilidade da fonte que divulga as informações.

As redes sociais viraram verdadeiras vitrines do ego, que divulgam a falsa propaganda de vidas felizes, mas que, superficialmente, sequer sabem o peso que a sua existência traz para o mundo. A ignorância, em nossos tempos, é cultivada e celebrada.

Quem ousa opor-se a esse tipo de vida vulgar, soterrada na ignorância, presa na caverna como estavam os prisioneiros de Platão, é considerado louco. Os escravos presos no interior da caverna não percebem que são prisioneiros, assim como as pessoas que estão presas na mídia, nas redes sociais e no mar de informações, muitas vezes desinformantes, da internet, não percebem que são enganadas.

Vivemos na época do predomínio da opinião rasa, do conhecimento superficial, da informação inútil e da prisão cotidiana que arrasta as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância.

Jose Alfredo – jornalista (Fonte: Internet)

Jose Alfredo
Enviado por Jose Alfredo em 15/05/2020
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