BANANA PRA QUEM NÃO LÊ
O bom leitor estraçalha o que lê, acredita duvidando e toma posse desapropriando o autor. O livro em suas mãos é seu.
O bom leitor arranha o texto, deixa suas marcar no lido, come e bebe as palavras até que elas sejam suas.
A leitura do bom leitor é jardinagem, ele rega as páginas, arranca ervas daninhas se por acaso as encontra e transforma a paisagem a sua volta.
A leitura do bom leitor é escavação, pilhagem, saque, roubo, assalto a mão armada.
O bom leitor esquadrinha o espaço entre o dito e o silenciado, se coloca na cena, fecha as cortinas antes do fim do espetáculo e manda embora os espectadores pra ficar sozinho entre as capas do livro sabendo-se em melhor companhia.
O bom leitor percebe as estruturas e as artimanhas da construção do texto só para reconstruir a revelia do autor as
teias invisíveis que sustentam andaimes, fantoches, o real e o abstrato, o figurado e o literal silêncio entre as linhas.
A qualidade de ser BOM associada ao sujeito LEITOR nada tem a ver com caráter, nem a ciência por mais revolucionária nem a política por mais libertadora podem mais que a Literatura.
O bom leitor está escrito, ele é a melhor invenção da humanidade, o bom leitor mora nos textos que o Tempo guarda e, como ele, mastiga, tritura, engole, vomita, repele e incorpora, fazendo do lugar comum - essa prisão fantástica nem sempre bela mas com certeza libertadora - uma trilha por onde descemos em busca de elevação.