Macarronada

A casa era estreita, não mais de dez metros, e bastante comprida, uns quarenta metros, com um enorme quintal nos fundos. Neste quintal, Don José cultivava, com muito apreço, as parreiras que faziam lembrar-se de sua terra natal. Do outro lado da cerca de varas, Joaquim passava o dia inteiro sentado numa cadeira, movendo os braços num movimento repetitivo, como um pêndulo. Ele era o filho mais velho de Maria Batistone. A família Batistone havia chegado há poucos anos da Itália, e como Don Jose, ainda conservavam muitos dos hábitos da terra natal. Mantinham o radio capela ligado durante todo o dia, e eram ávidos jogadores de escopa. Enquanto cuidava de suas queridas parreiras, Don Jose apreciava a companhia silenciosa de Joaquim, que era uma daquelas pessoas que por um motivo ou outro, haviam permanecido na infância, e apesar de já ter seus rosto coberto por uma sutil barba, não entraria nunca na idade adulta, das preocupações e cobiças. Pouco saía de casa, sua mãe imaginava que o mundo não era adequado para comportar um rapaz como Joaquim, e como ela não poderia mudar o mundo, o melhor seria manter-lo no quintal, próximo das bonitas parreiras e da boa companhia do velho vizinho. O que você vai comer hoje, Joaquim? Perguntava Don Jose, já sabendo qual seria a resposta. “Macarrão”, respondia o menino- homem, com voz grave e firme, como de tenor das operas tão apreciadas por sua família. Anos mais tarde me despedi de Joaquim e de Don Jose, como muitos outros de minha geração, fui à capital tentar uma vida melhor, e devo dizer que se não me tornei um milionário, pelo menos me sai bastante bem. Hoje recebi a noticia de que Joaquim faleceu, dormindo, sentado naquela mesma cadeira onde o conheci. Minha esposa veio me falar que teremos macarronada para o jantar, e se espantou quando percebeu que uma lágrima escorria pelo meu rosto.

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Esteban Donato Ardanuy
Enviado por Esteban Donato Ardanuy em 14/05/2020
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