CRÔNICA – Descompostura – 14.05.2020 (PRL)
CRÔNICA – Descompostura – 14.05.2020 (PRL)
Não tenho compromisso de defender nem de encobrir deslizes do presidente da República, mesmo que nele tivesse votado nas eleições que se passaram em 2018. Nem a obrigação de ficar calado ante as atitudes de parte dos governadores e prefeitos do nosso país, na verdade os únicos beneficiados com toda essa balbúrdia em que vivemos nos dias atuais.
Pela Constituição de 1988, aquela apelidada de “Cidadã” pelo ilustre e saudoso deputado Ulisses Guimarães, cabe exclusivamente ao presidente do país a decretação de “Estado de Sítio”, único dispositivo que proíbe as pessoas de irem às ruas, e fazia muito tempo que não era acionada essa opção. Mas os mandatários regionais estão apelando para conter o povo que quer trabalhar para ganhar o pão de cada dia, pois não tem condições financeiras de ficar em casa, utilizando-se da própria polícia para conter e cercear a liberdade de ir e vir, que é um direito fundamental da pessoa humana. Assim, militares que vivem uma vida de miséria, com soldos insuficientes para a dignidade própria e da família, veem-se compelidos a prender um irmão que crime algum cometera, mas sim o desejo de sustentar a sua prole.
Decretos da presidência deixam de ser cumpridos, como esse último, que tornou essencial o trabalho de salões de cabeleireiros e academias de ginásticas, que tinha a finalidade de facilitar a vida de milhares de profissionais pelo país afora, muitos sem as mínimas condições de se manter sem o faturamento do dia a dia. Torna-se muito difícil escolher quais são as atividades essenciais porque no ambiente econômico todos os ramos são interligados e faz um círculo em que roda a economia. Essa desobediência, por si só, já seria elemento para se decretar a intervenção federal nos Estados que apelam pro absolutismo, montado, segundo dizem, no forte argumento da “pandemia”.
O presidente Bolsonaro fala demais e, com isso, fornece condições e ferramentas para adversários políticos assacarem contra seus posicionamentos, que muitas vezes assustam, mas que no fundo são apenas parte de sua retórica e do seu otimismo, como se na caserna estivesse comandando seus briosos soldados. Há um excesso de confiança na tropa, que tem de ser desafiada a cada momento, em busca de um objetivo, que é a vitória. Mas muitas vezes você se engana com aquele soldado que se mostrara exemplar no cumprimento do dever em outra esfera, promove-o a cargos mais relevantes, esperando atuação ainda mais eficiente, todavia ele falha e fica anotando na sua caderneta particular os defeitos e lacunas do comandante para, em benefício próprio ou de terceiras pessoas interessadas na batuta, denunciar como crime, timtim por timtim, com o intuito de incompatibilizá-lo perante as massas e minar o apoio que o povo prestou nas ruas e nas urnas nas memoráveis eleições de 2018.
Foi assim com o gigantesco Doutor Moro, um homem que galgou a simpatia de todos os brasileiros, em face da sua exemplar atuação na condição de Juiz Federal da Vara de Curitiba, aquela que causava medo às gangues que se apoderaram do país e causaram verdadeiro caos na nossa economia, em função da roubalheira sem precedentes na história, envolvendo os vários setores da vida nacional. Aonde houvesse uma empresa pública era sinal de corrupção, de propina e de gastos desenfreados com superfaturamento de despesas e serviços. E é por isso e outras causas que os alijados do poder estão endiabrados, numa campanha de âmbito nacional e até externa para defenestrar o presidente do poder.
Eu mesmo jurei de pés juntos que, se vivo fosse, sufragaria o nome desse respeitável senhor à presidência da República, sem qualquer titubeio ou vacilo, pois me parecia a figura certa para substituir o atual, isso com a vantagem de ser um homem da lei, que entende do riscado e sabe discernir com mais exatidão entre o bem e o mal. Todavia, me enganei profundamente, porquanto uma pessoa do bem não faz uma denunciação vazia como essa que promovera em desfavor do Bolsonaro, isso o que se deduz dos motivos que diziam bombásticos para derrubar do poder quem deseja por a casa em ordem ou pelo menos amainar a corrupção.
É fácil entender que, ao contrário do que a mídia desastrosa proclama, o grande Doutor Moro se “queimou”, tanto para ser candidato como para integrar a chapa de alguém, como vice, pois ninguém estaria confortável com uma pessoa insegura do seu lado, incapaz de guardar conveniências e pronto pra colocar a boca no trombone por qualquer situação que não lhe agrade ou que não lhe seja favorável, pois se julga superior e dono da verdade. Não perdeu o meu apreço, pois prestou bons serviços ao país, deixa de contar apenas com o voto de alguém que nada representa num universo de desesperançados.
Lendo sobre “a confiança”, aqui mesmo no Google, nos dizeres da senhora Jaqueline Rodrigues, deparei-me com um texto que muito me chamou a atenção: “A decisão de não compartilhar tudo é a primeira característica de crianças e adolescentes. Porém, algumas pessoas são incapazes de manter um segredo. Elas se apropriam da vida dos outros, porque a delas está vazia. Há falta de uma psique madura e uma forte identidade, pois quando alguém lhe conta um segredo, compartilha com você uma intimidade que não lhe pertence”. Com toda a franqueza, que me é peculiar, penso que o nosso ex-ministro agiu como uma criança em tempos de escola com aquelas desavenças tradicionais que não dão em nada.
Faltou humildade ao ex-ministro. Não deveria ter deixado o governo com uma entrevista “bomba” e nem tampouco comparecido às televisões para tumultuar ainda mais o país. Os holofotes das telinhas o fizeram sentir-se o soberano e o único dono da verdade.
Do lado do presidente, já que foi cabalmente demonstrado não existir o animus de um golpe militar, e a maior prova disso foi a convocação de grandes generais à presença da Polícia Federal para depor a propósito duma reunião particular, fechada para o público, envolvendo ministros de Estado, terá de mudar sua postura. Falar pouco, porquanto é justamente na mídia onde reside a maior campanha para derrubá-lo. E veja-se que houve até ameaça de comparecimento “debaixo de vara”, ou seja com o uso da força. Vivemos novos tempos, mas é urgente que cada poder se limite a fazer apenas a sua parte, sem politizar e sem preferências pessoais.
Deixei de ser um cidadão para me transformar num joguete ao gosto dos governantes locais, que destilam ódio ao presidente da República; perdi o meu direito de sair. Até a faxineira que trabalha aqui em casa duas vezes por semana teve de me pedir um atestado para que possa vir trabalhar na próxima semana, sob pena de ser recolhida, presa nas malhas das autoridades policiais.
Meu abraço.
Fonte da foto: GOOGLE