a saudade. [pt.1]
Estava na praia com meus amigos, uns no banho de mar, outros tirando fotos, e eu sentado embaixo do guarda-sol, que já não era tão útil, pois era um dia com muitas nuvens, quase nublado.
Sentado, observando o mar, lembrava-me de tudo que vivi, não tão velho, não tão novo, não tão completo. Era um sentimento estranho, esse vazio. Logo eu, que não acreditava em metade da laranja ou amor da minha vida, sentia que não havia algo, alguma experiência que após ser vivida, concluiria: pronto, agora vou descansar, porque andei por todo este maravilhoso mundo.
Foi então que surge uma voz ao meu lado:
- Você sabe onde está meu Pai?
Meticuloso, virei e deparei-me com uma criança. Estava com areia na cara, numa mistura com suas lágrimas, que definitivamente já haviam começado a transbordar a muito tempo.
- Não, não sei. Você veio de qual lado da praia?
- Daquele (apontando para a direita).
- Senta aqui, vou ver o que posso fazer.
Fui ao salva-vidas, ninguém havia relatado nada. Esperei em pé alguém correndo desesperadamente procurando por uma criança, e novamente, nada.
Voltando ao guarda-sol, a criança já estava aos prantos. Enquanto não encontrava seus Pais, tentei acalmar a situação. Como havia lido esses dias: concorde e fale o óbvio, a pessoa vai confiar em você.
- É... eu entendo, você está chateada por não encontrar seus pais.
- Sim (chorando).
- Olha, sabe o que fazia quando meus Pais me deixavam sozinho? Me enchia de doces!
- Hum (esfregava sua mãozinhas nos olhos).
- E por coincidência, está vindo um carrinho de picolé. Eu vou pegar um pra mim e pra você, o que acha?
- Ta...
- Vamos, levanta.
Me agachei na frente dela e limpei seu rosto. Ainda estava muito abalada.
- Diga: eu quero um picolé!
- Eu quero um picolé...
- Assim não, com uma cara de brava. Força!
- EU QUERO UM PICOLÉ!
- Isso! Vamos lá.
Em alguns minutos estávamos nos dando bem, eu estava gostando da experiência de ser um Pai, nem que seja por um curto tempo. Seria isso o que me faltava? Ser pai?
Meus amigos estavam devolta ao guarda-sol, perguntando-me quem seria esta criança? De onde ela veio? De fato, era algo que eu também queria saber. A criança já estava conosco há uma hora, e segundos eles, eu levava jeito pra coisa.
Foi então que novamente surge uma voz ao meu lado, e infelizmente não era dela, mas sim de uma moça.
- Aí, amém. Ainda bem que te achei.
- Oi, você é quem?
- Sou a irmã Sandra, do orfanato Meninas de Ouro. Obrigada por achar e tomar conta dela esse tempo.
- É... não foi nada.
Então, pegou a menina no braço e foi levando-a para longe de mim.
- Vamos, está na hora de ir!
A menina olhava para trás e pedia para ficar. Eu estava destruído por dentro, e mais indeciso, pois sabia que o certo era ela ir, mas seria muita coincidência aparecer esta criança na minha vida?