CRÔNICA – O limite da confiança – 13.05.2020 (PRL)
 

CRÔNICA – O limite da confiança – 13.05.2020 (PRL)
 
 
 
Para tudo na vida há um limite. E a confiança acaba quando se a confunde com subserviência. De agora pra frente os senhores políticos que almejem galgar postos de comando neste país, inclusive a presidência da República, terão de redobrar os seus cuidados, se eleitos, na nomeação de seus auxiliares, porque os senhores da lei estão sempre atentos a todo e qualquer movimento que julgue contrário aos superiores interesses da “democracia”.
 
Eu seria capaz de dar um doce àquela autoridade que teria nomeado para o cargo de secretário da educação, por exemplo, um seu desafeto ou mesmo um inimigo não declarado, mas por baixo do pano. E nem presidente que tenha designado pessoas completamente alheias aos seus propósitos para exercer as mais nobres funções de ministro de Estado. Isso funciona aqui no Brasil e em todos os lugares do mundo, pois é questão de confiança.
 
O detalhe é que aqui essa tradição foi esquecida pelo presidente da República, que entregou, de saída, o comando da Casa Civil (mais poderosa do que uma vice-presidência) a um fiel membro do DEM; festejou quando as presidências da Câmara e do Senado ficaram nas mãos de competentes políticos também do DEM, e ainda por cima presenteou, de mão beijada, o ministério da Saúde (talvez o maior orçamento da União) a outro membro do DEM. O PMDB, que foi protagonista no impeachment da doutora Dilma, também foi contemplado. Alguns dos escolhidos para o ministério técnico respondiam a acusações de corrupção. O seu próprio partido, o PSL fora acusado de candidaturas “laranjas”. Em suma, deu os votos do povo a adversários de sangue a fogo, cujo resultado se vê nos dias atuais. Cada qual que faça sua política em cima do prestigio dos cargos que ocupam.
 
O simples fato de se dar preferência a quem joga no mesmo time não pode ser confundido com os preceitos da missão. Não significa que aquele amigo ou conhecido que fora nomeado irá cumprir o seu papel sem observância das leis e dos costumes nacionais ou mesmo beneficiar essa ou aquela corrente de pensamento, ou ainda deixar à margem da lei os que a infringirem a seu favor ou em prol de terceiros.
 
A mim me parece lícito a um governador chamar o seu comandante de polícia e pedir que mande apurar com mais rigor esse ou aquele crime ocorrido na sua jurisdição, em especial se as investigações não estiverem correndo satisfatoriamente, mesmo que haja parentes envolvidos, porque isso é sinal de cuidado, de preocupação com a paz social. Mas se houver medidas que extrapolem as funções do subordinado este apenas tira de letra e não as pratica, sem precisar botar a boca no mundo, pois assim não há quem escape e se sustente nos cargos. Não há indicação de que o Bolsonaro tenha pedido/obtido a concordância do agente nomeado para agir fora dos limites da Constituição.
 
O caldo engrossou pro presidente. Todos os seus passos estão sendo vigiados por nacionais e estrangeiros. Amigos (?) de outrora já estão fugindo do barco nessa tempestade de chuviscos, esquecendo-se de que as enchentes de corrupção vão ficando cada dia mais distantes das garras dos que deveriam agir em defesa do patrimônio nacional. E os três poderes que se diziam harmônicos e independentes não são uma coisa nem outra, cada qual tem a sua própria constituição. Não há harmonia quando os interesses são os mais diversos e nem independência quando se manda na casa do vizinho.
 
Um abraço.
 
SilvaGusmão
Fonte da foto: Poder 360

 
 
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 13/05/2020
Reeditado em 13/05/2020
Código do texto: T6945976
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.