A rampa da garagem

Era um prédio pequeno: apenas quatro apartamentos e, na maior parte do tempo, apenas três deles estavam ocupados. O residente do 202 só passava ali os seus finais de semana.

A rua tinha recebido calçamento recentemente e a construtora tivera que quebrar a rampa que os moradores usavam para guardar os carros na garagem afim de concluir a obra.

A restauração da rampa ficara a cargo dos moradores, representados pelo síndico, o Matias.

- Mas eu estou sem tempo para resolver isso. - Disse Matias, enquanto passava as economias do condomínio para Tiago do 101, encarregado de dar um jeito na situação.

Tiago não sabia se tinha mais tempo que Matias, mas aceitou o encargo pois queria seu Fiat Uno na garagem.

Foi atrás do pedreiro. Por sorte, ou azar, tinha um na sua mesma rua, fazendo exatamente um serviço de restaurar garagem, em outro prédio que teve o mesmo destino.

O pedreiro Francisco avaliou a situação e fez o orçamento, enquanto coçava a cabeça.

- Veja bem, aqui é seis sacos de cimento, um metro de brita e outro de areia lavada, fina. Vão ser cinco diárias para mim e para o ajudante.

Tiago não tinha tempo para ir atrás de outro pedreiro nem conhecimento para estimar se aquele orçamento era exagerado ou não. Aceitou, passou a informação no grupo e foi atrás do material.

Primeiro, aproveitou o resto de areia, brita e cimento da obra do prédio vizinho, acertando com a síndica Patrícia um valor satisfatório.

Depois, correu atrás do restante do material, fechando negócio com uma loja próxima dali.

A colega de trabalho de Tiago, Joana, também era engenheira. Interessada pela história perguntou:

- Tu pagou quanto no saco de cimento?

- Vinte e cinco - disse Tiago.

- Vinte e cinco?! Tu foi roubado! Eu conseguia o saco pra você a 20!

- Cinco reais só a diferença.

- Se são seis sacos, são trinta reais de diferença - um saco a mais e com troco!

- Eita.

Tiago não era muito bom de matemática.

No mesmo dia, Francisco ligou para Tiago:

- Olha, não precisa mais da brita não. A que você arrumou com a vizinha vai dar. Mas a areia ainda não chegou, não tenho como trabalhar.

Tiago foi resolver. Chegou na loja, cancelou a brita e reclamou da demora da areia. A dona ligou pro motorista do caminhão que já devia ter feito a entrega.

Entraram numa briga que Tiago não entendeu muito bem, mas saiu da loja com a garantia de que a areia ia chegar.

E chegou, mas não era areia lavada. Era areia grossa, de barranco.

- E tem diferença? - Perguntou Tiago, que nada sabia de areia fina ou grossa, lavada ou não.

- Tem. Essa aqui não presta pra isso não.

- Francisco, faz com essa mesmo. Não volto naquela loja pra reclamar não.

- Vai prestar não...

- Faz aí como dá.

Francisco fez. A rampa ficou pronta e o Uno voltou a entrar na garagem.

Um mês depois começou a chover e os condôminos começaram a perceber a rampa se desfazendo. A areia era carregada pela chuva e quando a chuva parava o cimento rachava sob o sol.

Depois de reclamações pra lá e para cá a culpa ficou sendo do pedreiro, que não estava lá pra se defender. Decidiram que ia ser feito um novo serviço, colocando pedras ao invés de apenas cimento.

Dessa vez Matias não pediu ajuda para Tiago.

O Fantasma Silva
Enviado por O Fantasma Silva em 12/05/2020
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