COVIDIANO - II

Já faz um bom tempo que ela está ali, tentando colocar a máscara no Touro. É este o nome do pequeno pug de cor amarelada, manchas escuras e humor zero. Aqui da janela acompanho o espetáculo.

Depois de muita insistência e a resistência natural do bicho, a garota parece desistir, levanta-se, põe a mão na cintura, olha pro lado procurando alguma solução e por fim levanta a cabeça e me vê.

- O senhor sabe como colocar a máscara no meu cachorrinho? - Ela me pergunta numa sentada só, a voz infantil contracenando com a pose adulta.

- E por que você quer colocar a máscara nele?

- É por causa do coronavírus, o senhor não tá sabendo? É um bichinho aí que está matando todo mundo, principalmente velhinhos. Então tenho que proteger o Touro com uma máscara, pois ele também está velhinho, sabia?

- Nossa! Não, eu não sabia que esse bichinho mau atacava animais inocentes também. - Falei o que meio à mente naquele momento.

Ela apertou as mãos na cintura, me olhou séria e falou:

- Ninguém tem certeza. Mas é a gente que tem que proteger, pois quem é inocente não sabe se defender.

- Mas se ele não aceitar a máscara, como você vai fazer?

- Aí vou ser obrigada a colocar a focinheira da Pulga nele, mesmo ficando um pouca grande e solta.

- E quem é Pulga?

- É a doberman do meu primo. Vou pedir emprestada agora mesmo.

- E você acha que vai proteger? Não é melhor deixar ele aí no quintal?

- Não, se deixar ele aqui no quintal, vai encher de cocô no corredor.