CARTA DE UM LOUCO AO MANICÔMIO
Desesperadamente fui crer que viria à ser um condenado, um condenado de imediato. Esses declives de ouvir os códigos de conduta nunca praticados, essas conversas demonstrando superioridade a mim e os companheiros que estiveram ao meu lado sempre, ouvindo, lendo, cantando, pintando, decidindo e respondendo o porque não cometer suicídio hoje, porque manter clemência hoje, porque gritamos ou porque ficamos calados demais, demasiadamente assim foi... eu sei que, os manicômios são essenciais assim como as igrejas, assim como um rato numa casa atormentando um gato - ou uma mãe preocupada, sei porque li (o alienista). No primeiro dia adentrei e dormi; avistei de um modo do qual realmente precisava de tudo aquilo e os quais ficaram fora havia de chorar e sofrer minha ausência, agora saio, satisfeito porque julgo saber que não mais preciso, a maior tragédia humana foi a criação de ferramentas para ensinar pessoas a serem pessoas. Malucos são sempre malucos, o coração é tratado, o cabelo é cuidado, por quê não a cabeça, porque não o choque de lucidez a realidade que me cobre, que me sucinta apenas comigo mesmo - saí ontem e escrevo hoje, reeditado está o texto, assim como minha vida, agora ouço outras músicas e os cantores continuam mortos, gente viva só dá desgosto, continuo lendo receitas, plantando girassóis e chamo minha mãe pelo nome dela, continuamente pelo nome, por essa majestade que me rodeia e que acredita em mim, esperam muito de mim ao manicômio - todos que me fizeram da amizade algo ainda mais sublime, desejo uma morte rápida acompanhada de uma vida mui longa. Acredito em todos e desconfio também de todos, voltei e minha sanidade hoje mede um alto teor de empatia aos demais, não há cura, sinto agora o que antes ainda sentia, a carta é somente pra tirar do peito e o destino dela é como o destino da vida, apenas mais uma coisa com a qual cumprir.