UM SÁBADO GELADO
Neste dia das mães que se aproxima, minha saudade daquela que protagonizou momentos alegres, hilários e descompromissados em sua existência.
Saudade daquela que conhecia minha alma, meus anseios, minhas angústias.
Daquela que me dava força, me perguntava: “Queres comer alguma coisinha ?” e quando percebia que os problemas transcendiam ao "comer alguma coisinha", amenizava com uma frase:
-“Não fique triste ! Deixe em veremos.Amanhã, com calma, tudo se resolve”.
Então, dona Hilda ! Quantas coisas tenho deixado “em veremos”, ainda que muito pouco tenha se resolvido no dia seguinte.
Mas vamos às lembranças de dona Hilda – Dida – como lhe chamavam carinhosamente.
PRIMEIRA PARTE:
Na tarde de um sábado qualquer nos anos 80 com vento cortante e gelado - a neve caía em Inácio Martins, cidade proxima a Irati – a casa encolhia-se lambida pelo rigor da ventania.
Ao redor do fogão de lenha, empoleiravam-se os membros da familia Teixeira.
Palmas no portão !
-Meus Deus ! Quem será o alucinado com coragem pra sair de casa num dia desses?
Profere meu pai, de cuia na mão.
Dona Hilda ajeita o coque e vai assuntar quem bate em seu portão.
Um burburinho de vozes femininas chega de forma incompreensível aos nossos ouvidos.
Tudo nos leva a crer ser mais uma das centenas dos contactos da dona da casa
Adentram.
Dona Maria e seu esposo Luiz, decidiram encarar o frio para uma visitinha à amiga.
Ela, toda falante,sapatinho de salto alto, blusas, casaco e manta.
Ele, caladinho, franzino, com uma jaquetinha singela e um cachecol ao pescoço.
Dona Maria recheia os aposentos com sua peculiar tagarelice – mamãe não deixa por menos.
Quem morreu, quem noivou, quem está separando-se, quem vai se casar,etc...
Principiam-se os comentários sobre a metereologia:
Que frio ! Será que teremos neve também?
-Olha amiga ! Profere a visitante, esfregando as mãos:
Tudo o que sei é que estou “encatruzada” de frio e o coitado do meu véio, tão magrinho,já deve estar “intanguido” o pobrezinho.
Seu Luiz, que estava sentado na lateral do fogão, deu um sorrisinho “marcela” (amarelo desbotado), balançou a cabeça e apanhou um pinhão assado sobre a chapa quente.
Mamãe, colocou uma cadeira diante da porta do fogão e recomendou à amiga:
Mariazinha do céu ! “Desencatruze” muié !
Devidamente “desencatruzada”, ele não mais “intanguido”,a conversa rolou animada até o fim do dia.Muito café, pinhão,pão e pipoca.
Me propuz a leva-los de carro para sua casa.O trecho até o sítio do casal era muito longo.
Dona Hilda, que era do tipo “Maria gasolina” , não se furtou a faze-los companhia.
Bem agasalhada,com o coque impecável e cheirando à “ Rapture “ da Avon, sentou-se ao meu lado.
Uma hora depois, retornávamos pra casa.No porta malas do carro:abóboras, batata doce,ovos caipira e mimosas colhidas no pé. Agradinhos do sítio do casal: Luiz e Maria.
Ao nosso campo de visão , um dos céus mais lindos de que tenho lembrança.
No meio do caminho a recomendação:
-Acelere ! Que agora sou eu quem está “encatruzada”.
Respondi:
-Eu estou “intanguido”
Dona Hilda, Maria e Luiz, há muito passaram para o andar de cima .
No Aurélio não constam os termos acima citados.Eram exclusividades das amizades de dona Hilda.
Hoje, nesta tarde quase gelada, não chego a encatruzar-me nem intanguir-me, mas uma saudade com tempero de ternura lambe-me em forma de lembranças.
Neste dia das mães que se aproxima, minha saudade daquela que protagonizou momentos alegres, hilários e descompromissados em sua existência.
Saudade daquela que conhecia minha alma, meus anseios, minhas angústias.
Daquela que me dava força, me perguntava: “Queres comer alguma coisinha ?” e quando percebia que os problemas transcendiam ao "comer alguma coisinha", amenizava com uma frase:
-“Não fique triste ! Deixe em veremos.Amanhã, com calma, tudo se resolve”.
Então, dona Hilda ! Quantas coisas tenho deixado “em veremos”, ainda que muito pouco tenha se resolvido no dia seguinte.
Mas vamos às lembranças de dona Hilda – Dida – como lhe chamavam carinhosamente.
PRIMEIRA PARTE:
Na tarde de um sábado qualquer nos anos 80 com vento cortante e gelado - a neve caía em Inácio Martins, cidade proxima a Irati – a casa encolhia-se lambida pelo rigor da ventania.
Ao redor do fogão de lenha, empoleiravam-se os membros da familia Teixeira.
Palmas no portão !
-Meus Deus ! Quem será o alucinado com coragem pra sair de casa num dia desses?
Profere meu pai, de cuia na mão.
Dona Hilda ajeita o coque e vai assuntar quem bate em seu portão.
Um burburinho de vozes femininas chega de forma incompreensível aos nossos ouvidos.
Tudo nos leva a crer ser mais uma das centenas dos contactos da dona da casa
Adentram.
Dona Maria e seu esposo Luiz, decidiram encarar o frio para uma visitinha à amiga.
Ela, toda falante,sapatinho de salto alto, blusas, casaco e manta.
Ele, caladinho, franzino, com uma jaquetinha singela e um cachecol ao pescoço.
Dona Maria recheia os aposentos com sua peculiar tagarelice – mamãe não deixa por menos.
Quem morreu, quem noivou, quem está separando-se, quem vai se casar,etc...
Principiam-se os comentários sobre a metereologia:
Que frio ! Será que teremos neve também?
-Olha amiga ! Profere a visitante, esfregando as mãos:
Tudo o que sei é que estou “encatruzada” de frio e o coitado do meu véio, tão magrinho,já deve estar “intanguido” o pobrezinho.
Seu Luiz, que estava sentado na lateral do fogão, deu um sorrisinho “marcela” (amarelo desbotado), balançou a cabeça e apanhou um pinhão assado sobre a chapa quente.
Mamãe, colocou uma cadeira diante da porta do fogão e recomendou à amiga:
Mariazinha do céu ! “Desencatruze” muié !
Devidamente “desencatruzada”, ele não mais “intanguido”,a conversa rolou animada até o fim do dia.Muito café, pinhão,pão e pipoca.
Me propuz a leva-los de carro para sua casa.O trecho até o sítio do casal era muito longo.
Dona Hilda, que era do tipo “Maria gasolina” , não se furtou a faze-los companhia.
Bem agasalhada,com o coque impecável e cheirando à “ Rapture “ da Avon, sentou-se ao meu lado.
Uma hora depois, retornávamos pra casa.No porta malas do carro:abóboras, batata doce,ovos caipira e mimosas colhidas no pé. Agradinhos do sítio do casal: Luiz e Maria.
Ao nosso campo de visão , um dos céus mais lindos de que tenho lembrança.
No meio do caminho a recomendação:
-Acelere ! Que agora sou eu quem está “encatruzada”.
Respondi:
-Eu estou “intanguido”
Dona Hilda, Maria e Luiz, há muito passaram para o andar de cima .
No Aurélio não constam os termos acima citados.Eram exclusividades das amizades de dona Hilda.
Hoje, nesta tarde quase gelada, não chego a encatruzar-me nem intanguir-me, mas uma saudade com tempero de ternura lambe-me em forma de lembranças.