Se fosse permitido...

Se fosse permitido fugir se houvesse paz em algum lugar, eu não seria o amante das flores que enfeitam a tua casa.Não seria o miserável abatido pela dor, filho da desesperança, destinatário endurecido do grito.Não seria motivo de escândalo para ninguém , nem da planta desenraizada semeada em terra fria.Se fosse permitido fugir, se fosse possível romper a corrente, eu não seria um navegante impotente privado de barco...e mar ...

Os eflúvios líricos que lhes inspira o brilho metálico do rio poluído, da placidez com que uma balsa parece ir a parte alguma e, acima de tudo, da compensação do frio interior proporcionada pelos milhões de pontos luminosos que parecem construir arranha céus de pirilampos na noite e dessa ilha de tempo do Bar da Brahma, que envolve poeticamente a esquina da Ipiranga com a São João.Por que tento inutilmente escrever poesias inconclusas que transformo em prosa querendo criar “proesia”impelido por esta minha sensibilidade pessoal e porque as vezes me canso da monotonia de minha própria imaginação e parto em busca da diversidade.Observo o verbo partir, partir para aonde e para que partir em busca de mim, perdido que estou em minha prosa.Meus olhos úmidos diluem os semáforos, os carros, os escarpados arranha céus, embaçados da cortina de chuva que cai com esta imprevisibilidade paulista que deu prosperidade á terra e aos comerciantes e “camelots “que vendem guarda-chuvas.Chove, chove sobre minha terra, chove sobre minha vida escondida, nas vielas da minha memória de uma São Paulo de garoas românticas perdidas no tempo.Rejeito o poema que a chuva pede, tentando chegar em casa o mais rápido que possa meu passos agüentam para evitar molhar-me mais que meus olhos.E encontrar em casa ,minha insônia pendurada no teto deitar na minha pátria de lençóis desfeitos, pois há noites que se arrastam embriagadas e outras se arrastam sem sequer se embriagarem de minha Sampa... há mais silêncio que ausência ao meu redor....quinta feira em São Paulo.Que meu abraço encontre o seu sorriso.

Carlos Said

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 14/10/2007
Reeditado em 30/03/2017
Código do texto: T694254
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