FUGIMOS DO HOSPITAL EM BUDAPESTE
FUGIMOS DO HOSPITAL EM BUDAPESTE
Às vezes uma tragédia tem um lado de comédia. Eu e Fátima, minha esposa, vivenciamos situação desesperadora, mas que teve também um lado que hoje nos faz rir, pois cometemos a loucura de fugir de um hospital.
Estávamos na Capital húngara, Budapeste, cidade linda banhada pelas águas esverdeadas do Rio Danúbio.
Hospedados no Hotel Mercure, na Rua Váci, um calçadão bastante movimentado pertinho do Danúbio, localização privilegiada. Restaurantes, lojas, museu, casas de câmbio e até um mercado municipal a algumas quadras.
Quando viajamos apreciamos comidas típicas. É uma forma de conhecer os costumes culinários da região. Quase sempre nos damos bem, mas às vezes entramos em algumas frias. Em Budapeste não foi diferente. Entramos em um restaurante para comer alguma coisa e no balcão de vidro escolhemos algo semelhante a quibe cru. O garçom nos serviu dois pratos fartos e na primeira garfada tivemos uma surpresa. Devia ser pimenta moída para acompanhar algum prato.
No último dia de nossa estadia resolvemos experimentar comidinhas típicas em uma feira gastronômica de rua. Pedimos salsichas com chucrute, purê de maçã e um copo de vinho quente. Deixei o vinho no balcão por alguns segundos, tempo suficiente para levar os dois pratos até uma mesa rústica onde Fátima aguardava. Voltei para pegar o copo de vinho. Não levei mais do que uns dez ou quinze segundos.
Em seguida, resolvemos ir a uma loja comprar uma peça de roupa.
No caminho Fátima começou a se sentir tonta. Quando ela reclamou de tontura senti algo estranho; parece que estava um pouco tonto também, mas não falei nada porque achei que estava sendo sugestionado.
Na volta, a tontura de Fátima foi aumentando e resolvemos apressar o passo para chegar rápido no Hotel.
Chegando ao quarto resolvemos ficar deitados para que a tontura passasse. Fátima começou a falar com a língua enrolada. Levantei-me para pegar uma água no frigobar. Não consegui. Caí de costas entre um balcão e a cama. Por muita sorte não bati a cabeça.
Ficamos totalmente dopados. Alguém deve ter colocado droga na bebida na feira de rua. Eu havia bebido mais do que ela e, embora o efeito tenha demorado mais, foi maior para mim.
Fátima conseguiu ir à portaria para pedir auxílio. Sem noção, tentei ir atrás dela, mas ao invés de sair do quarto, entrei no banheiro e não conseguia sair. Vagava desesperado, sem encontrar a saída.
Para não alongar demais a narrativa, completamente dopado, fui levado de cadeira de rodas de ambulância para o hospital. Cheguei muito mal, gritando e completamente fora de mim.
Havia muita gente para ser atendida. Fiquei na cadeira de rodas aterrorizando com gritos as pessoas próximas.
Fátima pedia para que eu fosse atendido. A recepcionista mostrava uma pilha de fichas de pessoas que também aguardavam. Ninguém sabia o que tinha acontecido conosco e, provavelmente, pensavam: - os coroas se doparam e agora estão nos dando trabalho.
As horas passaram e com o tempo fui melhorando. Já estava quase em estado normal.
Por volta de duas horas da manhã, já raciocinando melhor, falei para Fátima que caso fosse atendido não iriam me liberar a tempo de irmos para o aeroporto. O vôo era às 10 horas da manhã.
Resolvemos fugir do hospital, porém não sabíamos como. Não tínhamos a mínima idéia de localização e distância. Vimos que havia outra sala com uma máquina de refrigerantes. Fátima resolveu pegar uma bebida, mas não conseguiu. Não lembro se não tinha moedas ou se não soube operá-la. Uma senhora estava nessa sala e gentilmente inseriu uma moeda e ofereceu o refrigerante para ela.
Táxi é uma palavra universal. Perguntamos àquela senhora como poderíamos conseguir um e ela, pelo seu celular, fez a solicitação para nós explicando com gestos que poderíamos sair pela porta dos fundos e seguir por uns 100 metros à esquerda. Não tivemos dúvidas. Saímos na escuridão da noite e fomos para o lugar indicado. Esperamos uns dez minutos pela chegada do taxi. Quando era aproximadamente três horas da madrugada estávamos chegando ao Hotel. Conseguimos dormir um pouco.
No dia seguinte embarcamos para o Brasil, aliviados.
Como tínhamos acionado o seguro não sabemos como terminou a parte burocrática. Só sei que aquela situação trágica, hoje, nos faz rir. Fugiríamos do hospital, ou perderíamos o nosso vôo.