LITERATURA FLUMINENSE IV

KLÉBER DE SÁ CARVALHO E O CAFÉ PARIS

Nelson Marzullo Tangerini

Nunca lembrado, quando se fala da Roda Literária Café Paris, Kléber de Sá Carvalho foi um dos poetas do famoso grupo de intelectuais que marcou a história de Niterói, ex-capital fluminense, nos anos 1920.

Em seu livro Um homem na multidão, de crônicas, publicado em 1946, Kléber faz um relato preciso do que foi a turma do Café, livro que ajudou Lyad de Almeida a garimpar preciosidades da vida e da obra do poeta satírico de Luiz Leitão e escrever “Lili Leitão, o Café Paris e a vida boêmia de Niterói, poesia e saudade”, livro publicado pela Niterói Livros, em 1996.

Diz a lenda que Kléber de Sá Carvalho já frequentava o Café Paris, no final dos anos 1910, muito antes, portanto, de a Roda Literária ser formada, época em que a velha estação das barcas ficava no Gragoatá, distante daquele estabelecimento, e que havia convocado os poetas para o Café, que passou a ficar em frente à nova Estação, na década de 1920. Mas, infelizmente, não podemos confirmar a veracidade dessa história.

De sua lavra, publicamos o soneto Horóscopo, dedicado a Lima Barreto, que teve uma breve passagem por Niterói, quando lá estudou, nos anos 1890.

HORÓSCOPO

a Lima Barreto

Ai de quem, ao nascer, trouxe na palma

Da mão esquerda a linha da poesia,

Cujo sulco fatal reflete a na alma

A tarja negra da melancolia.

Nunca surgira esse infeliz, da calma

Do invencível não ser a luz do dia

Que a dor sobre o seu berço logo espalma

Amplas asas de treva e de agonia.

E, ai de mim!... Esta linha que registra

Fadários como os de Camões e Dante,

Sinistramente, em minha mão sinistra,

Vejo-a tecendo a triste lenda que há-de

Meu nome seu lauréis guardar constante,

Como um exemplo de infelicidade.

O escritor Afonso Henriques Lima Barreto nasceu na Cidade do Rio de Janeiro, à 13 de maio de 1881. Sobre a data, Lima Barreto dizia: “Nasci sem dinheiro, mulato e livre”.

Em março de 1891, o escritor carioca matricula-se, como aluno interno, no Liceu Popular Niteroiense, dirigido por William Cunditt, estudos que foram custeados por seu padrinho, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o futuro Barão de Ouro Preto.

Deste período, Lima Barreto se lembra com ternura e saudade, em seu livro Feiras e Mafuás, de Miss Annie Cunditt Guimarães: “ foi minha professora de inglês e, muito boa, guardo eu dela recordações perfeitamente filiais”.

No dia 1º de novembro de 1922, o autor de O triste fim de Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos, entre outros romances, morre em Todos os Santos, subúrbio do Rio, deixando, inclusive, relatos sobre sua dura passagem pelo hospício: o livro “Cemitério dos vivos”.

Sobre Kléber de Sá Carvalho, poeta, contista, jornalista e escritor, Kléber , autor do livro de sonetos Estrada cheia de sol, Editora Aurora, 1951, registramos que o “parisiense” nasceu em Niterói, RJ, em 1900, onde veio a falecer, em 1973, e que foi membro da Academia Fluminense de Letras e do Cenáculo Fluminense de Letras.

O soneto Horóscopo, publicado aqui nesta crônica faz parte do livro Os poetas Satíricos do Café Paris, Clássicos Fluminenses,volume 9, Organização e Apresentação de Luiz Antonio Barros, Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2014.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 09/05/2020
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