Chegamos até daqui
O período de isolamento social nos deixa bastante reflexivos, de repente temos a oportunidade de avaliar com detalhes as decisões boas ou não tão boas que tomamos no decorrer da caminhada até aqui percorrida.
Lembrei a pouco uma situação que vivi a muitos anos, estava na casa dos dezesseis, num período que o meu conhecimento de mundo resumia-se aos textos dos livros didáticos e algumas literaturas da série Vagalume, ou poucos exemplares de Harold Hobbins e Sidney Sheldon que por aqui chegavam.
Tratava-se mais de sorte cada volume que devorava sem perceber o tempo passar, e outra oportunidade era a escola, aquele universo sempre exerceu fascínio e ainda hoje, passados mais de trinta anos, fascina, realiza e emociona.
Sim, vamos às decisões, e lá estava a menina, ciente das dificuldades financeiras que a família atravessava, seu foco era finalizar o segundo grau e começar a trabalhar, antes, pelos mesmos motivos, não optou pelo curso de magistério, talvez um pouco de orientação, não precisava muito, tivessem direcionado seus olhos para o lado oposto do percurso errôneo que seguia com tamanha convicção, e seguiu.
No ano que completava a maior idade, seria também quando teria em mãos o seu diploma e logo descobriria algumas verdades não tão secretas.
De tanto insistir com papai, consegui uma entrevista de emprego com o diretor da maior rede de supermercados do estado na época, e nem sabia o tamanho do feito, fui aos poucos tomando ciência de como funcionava o mundo adulto e as oportunidades.
Após a atenciosa entrevista recebi uma carta com a indicação de um endereço que deveria comparecer de imediato, no local indicado já percebia uma aglomeração com mais de cem pessoas, comecei observar os comportamentos à medida que fazia uma leitura silenciosa do ambiente, todos ali buscavam o mesmo que eu, e também possuíam cartinhas nas mãos, o tempo passava e aquelas conversas foram se tornando comuns, uns contavam vantagem, outros se exibiam por conhecer um gerente ou um coordenador, até políticos eram citados, ou seja, cada um ali tinha uma indicação, e aquela era minha primeira experiência no universo adulto.
Em dado momento uma porta se abre e todos seguem de forma automatica na sua direção, as cartas são recolhidas e voltamos aos nossos lugares quando a porta era fechada sem nada ser dito, depois de um certo tempo compreendi que atrás daquela porta, literalmente as cartas estavam na mesa e a seleção começava.
Ficamos sentados no silêncio um bom tempo, não sabia qual seria o próximo passo, tentava disfarçar o nervosismo, até que a porta é aberta e chamam um único nome, o meu, caminhei assustada, foi quando conclui duas coisas, a primeira era perceber que meu pai havia encontrado um padrinho que me abriu as portas para o universo profissional, a segunda, que todas aquelas pessoas gravaram meu nome naquele dia, e lá fui aceita, meu currículo possuía curso de datilografia, segundo grau a concluir, faltando cerca de quatro meses para tal, um pai que era funcionário da empresa, e a cartinha alí grampeada dizendo: A candidata é filha de funcionário, seu pai está afastado por problema do coração, favor contratar de acordo o seu grau de escolaridade, a assinatura era de Jaime Mendonça, o filho do dono, e foi patrão de meu pai diretamente por alguns anos, até aquele afastamento por ele descrito.
Fiquei por alguns anos trabalhando, aprendendo e compreendendo as relações humanas e trabalhistas, aprendi muito, mas ainda assim, seguia sem uma boa orientação, mas não sabia ainda que precisava, comecei a agir mecanicamente, saia cedo para o trabalho, seguia direto para o colégio, pois faltavam ainda cerca de quatro meses para concluir e não poderia desistir, e só uns bons anos adiante que me dei conta da necessidade de retomar os estudos, e desde então vivo este vício de querer mais, como se tentasse compensar o tempo que não sabia que era capaz de transformar minha própria realidade a partir do conhecimento.
O período de isolamento social nos deixa bastante reflexivos, de repente temos a oportunidade de avaliar com detalhes as decisões boas ou não tão boas que tomamos no decorrer da caminhada até aqui percorrida.
Lembrei a pouco uma situação que vivi a muitos anos, estava na casa dos dezesseis, num período que o meu conhecimento de mundo resumia-se aos textos dos livros didáticos e algumas literaturas da série Vagalume, ou poucos exemplares de Harold Hobbins e Sidney Sheldon que por aqui chegavam.
Tratava-se mais de sorte cada volume que devorava sem perceber o tempo passar, e outra oportunidade era a escola, aquele universo sempre exerceu fascínio e ainda hoje, passados mais de trinta anos, fascina, realiza e emociona.
Sim, vamos às decisões, e lá estava a menina, ciente das dificuldades financeiras que a família atravessava, seu foco era finalizar o segundo grau e começar a trabalhar, antes, pelos mesmos motivos, não optou pelo curso de magistério, talvez um pouco de orientação, não precisava muito, tivessem direcionado seus olhos para o lado oposto do percurso errôneo que seguia com tamanha convicção, e seguiu.
No ano que completava a maior idade, seria também quando teria em mãos o seu diploma e logo descobriria algumas verdades não tão secretas.
De tanto insistir com papai, consegui uma entrevista de emprego com o diretor da maior rede de supermercados do estado na época, e nem sabia o tamanho do feito, fui aos poucos tomando ciência de como funcionava o mundo adulto e as oportunidades.
Após a atenciosa entrevista recebi uma carta com a indicação de um endereço que deveria comparecer de imediato, no local indicado já percebia uma aglomeração com mais de cem pessoas, comecei observar os comportamentos à medida que fazia uma leitura silenciosa do ambiente, todos ali buscavam o mesmo que eu, e também possuíam cartinhas nas mãos, o tempo passava e aquelas conversas foram se tornando comuns, uns contavam vantagem, outros se exibiam por conhecer um gerente ou um coordenador, até políticos eram citados, ou seja, cada um ali tinha uma indicação, e aquela era minha primeira experiência no universo adulto.
Em dado momento uma porta se abre e todos seguem de forma automatica na sua direção, as cartas são recolhidas e voltamos aos nossos lugares quando a porta era fechada sem nada ser dito, depois de um certo tempo compreendi que atrás daquela porta, literalmente as cartas estavam na mesa e a seleção começava.
Ficamos sentados no silêncio um bom tempo, não sabia qual seria o próximo passo, tentava disfarçar o nervosismo, até que a porta é aberta e chamam um único nome, o meu, caminhei assustada, foi quando conclui duas coisas, a primeira era perceber que meu pai havia encontrado um padrinho que me abriu as portas para o universo profissional, a segunda, que todas aquelas pessoas gravaram meu nome naquele dia, e lá fui aceita, meu currículo possuía curso de datilografia, segundo grau a concluir, faltando cerca de quatro meses para tal, um pai que era funcionário da empresa, e a cartinha alí grampeada dizendo: A candidata é filha de funcionário, seu pai está afastado por problema do coração, favor contratar de acordo o seu grau de escolaridade, a assinatura era de Jaime Mendonça, o filho do dono, e foi patrão de meu pai diretamente por alguns anos, até aquele afastamento por ele descrito.
Fiquei por alguns anos trabalhando, aprendendo e compreendendo as relações humanas e trabalhistas, aprendi muito, mas ainda assim, seguia sem uma boa orientação, mas não sabia ainda que precisava, comecei a agir mecanicamente, saia cedo para o trabalho, seguia direto para o colégio, pois faltavam ainda cerca de quatro meses para concluir e não poderia desistir, e só uns bons anos adiante que me dei conta da necessidade de retomar os estudos, e desde então vivo este vício de querer mais, como se tentasse compensar o tempo que não sabia que era capaz de transformar minha própria realidade a partir do conhecimento.