INOCENTES RAPOSINHAS
Havia em nosso pomar, distante uns cem metros da casa onde morávamos , um estranho paiol.
Em meio ao arvoredo, sobressaíam-se as duas janelas de cor vermelha, sempre fechadas.
À sua frente, o olho d´agua, para onde no começo da noite escalavam-me em busca d e água fresca.
Aquele paiol era soturno, evocava-me fantasmas, almas penadas,e nem preciso dizer de que eu “cortava um prego” – termo muito usado à quem borra-se de medo.
E lá ia eu...Juro que em algumas ocasiões, ouvi algumas vozes ecoando no compartimento, o que levou-me a chegar com o balde pela metade,dado a correria.
Meu pai fora o autor da façanha.Edificou “aquela coisa” dividida em duas partes.A primeira, para abrigar a fornalha, denominava-se “casa do fono” e a outra peça...
Escura, úmida, tenebrosa, nem mesmo ele sabia qual a serventia.
Segundo suas palavras,a distância era uma forma de prevenção caso viesse incendiar-se por conta da fornalha e seus braseiros.
- Tá longe da casa e tem um baita olho d água por perto, não corremos nenhum risco.
Haviam toros de lenha estocados no compartimento sombrio.
Em paralelo,havia uma raposa tocando a festa no galinheiro de vó Maria.
A velhinha andava possessa !
-Vou acabar com a raça desta raposa. Ah! Se vou...
Numa certa tarde, meu primo e eu, fomos convocados a proceder uma investigação na sala sinistra. Haviam indícios de que a famigerada raposa hospedava-se por ali.
Sob os olhares atentos e de muito pouca compaixão, de vovó e minha mãe, fomos revirando os troncos, um a um, de posse de duas barras de ferro fornecidas pela “tirana”, que era “pra arrebentar a (FDP) da raposa”.
Revira daqui, revira dali, abaixo de ordens das duas sargentonas, eis que de repente!
- Tchan, tchan, tchan...
Surge a raposa.
Matem ! Matem ! ecoa-se pelo paiol úmido e tristonho.
Ficamos pasmos !
Quem teria coragem de matar um animalzinho tão lindo feito aquele?
Aquela carinha meiga , ainda que o seu “perfume” fosse nauzeabundeante.
Além do mais, com cinco filhotinhos engarupados ! Todos nos olhando com ares amistosos?
- Ninguém vai matar raposa nenhuma, profere meu primo.
Isso mesmo, brado em voz forte e desafiadora.
Menos de um minuto e fomos “delicadamente” ejectados, porta a fora debaixo de um floreio de xingamentos das duas senhoras.
Do lado de fora, torcendo pela raposa e sua prole, ouvíamos vovó destilando todo seu ódio contra a inocente raposinha, seus filhotes e seus “inocentes” e covardes netinhos.
Um barulho exagerado de troncos jogados pra todos os lados e nós já antevendo as cenas do raposicídio que cometia-se naquele espaço.
Uns trinta minutos se passaram e a idosa sai com ares triunfantes de dentro do paiol.
-Matou a raposa? Gritamos em unÍssono.
Não obtivemos resposta.
Aparece meu pai, recém chegado do seu trabalho.
Indaga sobre o que está acontecendo.Ouvira o escândalo à caminho de casa.
Vovó lhe faz o relato, aumenta um bom tanto, e coloca nossa eficiência a nível de fiofó de sapo.
Espera de meu pai, a força de um aliado.
Quebra a cara !
Papai fica do nosso lado:
-Fizeram bem os meninos ! Eu também não mataria os bichinhos.
Vovó incorpora uma atriz.
Gesticula, espia o céu, a copa do arvoredo...
-Meu Deus ! Meu Deus ! Meu proprio filho !
Que bando de cagões eu criei !
Meu pai lhe pergunta:
-A senhora os matou ?
Ela demora um pouquinho e desabafa:
-Culpa destes dois infelizes. Não tive coragem. Mas arrumei um espaço maior para que façam o ninho.Afinal, o que é uma galinha a mais à quem já tem tantas?
Revestido do “leonino” que sou, não deixei por menos:
-Vovó ! A senhora também é uma cagona.
Resumindo, tudo acabou numa alegria ao redor da mesa.Jantarzinho simples, familia reunida e tijolinhos de abóbora para sobremesa.
Vez e outra, disfarçada, vó Maria adentrava ao paiol para verificar o “crescimento” dos filhotes.
Havia em nosso pomar, distante uns cem metros da casa onde morávamos , um estranho paiol.
Em meio ao arvoredo, sobressaíam-se as duas janelas de cor vermelha, sempre fechadas.
À sua frente, o olho d´agua, para onde no começo da noite escalavam-me em busca d e água fresca.
Aquele paiol era soturno, evocava-me fantasmas, almas penadas,e nem preciso dizer de que eu “cortava um prego” – termo muito usado à quem borra-se de medo.
E lá ia eu...Juro que em algumas ocasiões, ouvi algumas vozes ecoando no compartimento, o que levou-me a chegar com o balde pela metade,dado a correria.
Meu pai fora o autor da façanha.Edificou “aquela coisa” dividida em duas partes.A primeira, para abrigar a fornalha, denominava-se “casa do fono” e a outra peça...
Escura, úmida, tenebrosa, nem mesmo ele sabia qual a serventia.
Segundo suas palavras,a distância era uma forma de prevenção caso viesse incendiar-se por conta da fornalha e seus braseiros.
- Tá longe da casa e tem um baita olho d água por perto, não corremos nenhum risco.
Haviam toros de lenha estocados no compartimento sombrio.
Em paralelo,havia uma raposa tocando a festa no galinheiro de vó Maria.
A velhinha andava possessa !
-Vou acabar com a raça desta raposa. Ah! Se vou...
Numa certa tarde, meu primo e eu, fomos convocados a proceder uma investigação na sala sinistra. Haviam indícios de que a famigerada raposa hospedava-se por ali.
Sob os olhares atentos e de muito pouca compaixão, de vovó e minha mãe, fomos revirando os troncos, um a um, de posse de duas barras de ferro fornecidas pela “tirana”, que era “pra arrebentar a (FDP) da raposa”.
Revira daqui, revira dali, abaixo de ordens das duas sargentonas, eis que de repente!
- Tchan, tchan, tchan...
Surge a raposa.
Matem ! Matem ! ecoa-se pelo paiol úmido e tristonho.
Ficamos pasmos !
Quem teria coragem de matar um animalzinho tão lindo feito aquele?
Aquela carinha meiga , ainda que o seu “perfume” fosse nauzeabundeante.
Além do mais, com cinco filhotinhos engarupados ! Todos nos olhando com ares amistosos?
- Ninguém vai matar raposa nenhuma, profere meu primo.
Isso mesmo, brado em voz forte e desafiadora.
Menos de um minuto e fomos “delicadamente” ejectados, porta a fora debaixo de um floreio de xingamentos das duas senhoras.
Do lado de fora, torcendo pela raposa e sua prole, ouvíamos vovó destilando todo seu ódio contra a inocente raposinha, seus filhotes e seus “inocentes” e covardes netinhos.
Um barulho exagerado de troncos jogados pra todos os lados e nós já antevendo as cenas do raposicídio que cometia-se naquele espaço.
Uns trinta minutos se passaram e a idosa sai com ares triunfantes de dentro do paiol.
-Matou a raposa? Gritamos em unÍssono.
Não obtivemos resposta.
Aparece meu pai, recém chegado do seu trabalho.
Indaga sobre o que está acontecendo.Ouvira o escândalo à caminho de casa.
Vovó lhe faz o relato, aumenta um bom tanto, e coloca nossa eficiência a nível de fiofó de sapo.
Espera de meu pai, a força de um aliado.
Quebra a cara !
Papai fica do nosso lado:
-Fizeram bem os meninos ! Eu também não mataria os bichinhos.
Vovó incorpora uma atriz.
Gesticula, espia o céu, a copa do arvoredo...
-Meu Deus ! Meu Deus ! Meu proprio filho !
Que bando de cagões eu criei !
Meu pai lhe pergunta:
-A senhora os matou ?
Ela demora um pouquinho e desabafa:
-Culpa destes dois infelizes. Não tive coragem. Mas arrumei um espaço maior para que façam o ninho.Afinal, o que é uma galinha a mais à quem já tem tantas?
Revestido do “leonino” que sou, não deixei por menos:
-Vovó ! A senhora também é uma cagona.
Resumindo, tudo acabou numa alegria ao redor da mesa.Jantarzinho simples, familia reunida e tijolinhos de abóbora para sobremesa.
Vez e outra, disfarçada, vó Maria adentrava ao paiol para verificar o “crescimento” dos filhotes.