Por que ando escrevendo?
1. Com medo do vírus chinês, refugiei-me no meu gabinete, o meu canto, em minha casa.
Nesse bendito refúgio, navego, nestes últimos cinquenta dias, entre livros, músicas e um Notebook. Ah, ia me esquecendo: vez em quando, recebo a visita de um irrequieto bem-te-vi. Em outras crônicas, chamei-o de meu amigo Felicidade.
2. Nesse tempo de recolhimento compulsório, não faço outra coisa senão ler e escrever; mais escrever do que ler. Por que escrever mais do que ler? Respondo: aproveitando a enxurrada de assuntos, os mais diversos, que me chegam a todo instante. Os cronistas existem para registrar, com sua pena, o momento.
3. Escrevo todo santo dia. De onde tiro tanto assunto? Respondo: ouvindo rádio e vendo televisão; da manchete de uma gazeta; da leitura de um livro ou revista; da boca de um amigo; e até de um obituário. É, os mortos são notícias, e como são!
4. Ainda posso encontrar assunto na banca de jornal; na delicatessem onde compro pão; na porta da igreja onde rezo; numa esquina de minha rua; na indignação de um cidadão que passa por mim resmungando, esbravejando.
5. Se é meu dia de sorte, encontro assunto nos periquitos que, cantantes, cortam o meu céu; nos saguins, verdadeiros equilibristas, brincando nos fios elétricos; no arrulho rouco dos pombos enamorados; na traquinagem da criança do meu vizinho; no sorriso de uma mulher bonita que atravessa meu caminho sem me dar bolas...
6. A que hora escrevo? Há sempre aquela horinha em que o cronista se concentra para pôr no papel o que captou no correr das horas. Tem quem escreve belas páginas a qualquer hora do dia e da noite. Eu prefiro escrevinhar minhas crônicas à tardinha; de preferência, próximo ao pôr do sol.
7. Mas, de repente me faço esta pergunta: o que, afinal, me leva a escrever, todos os dias, uma, duas, até três crônicas? Por que essa mania de botar no papel, brincando ou brigando com as palavras, o que eu salvei, como dizia Josué Montello, "nos guardados" de minha memória; ou aquilo que acabara de tomar conhecimento?
8. Escrever não é tão fácil, como, aliás, muitos pensam. Além da preocupação com o vernáculo, é necessário dar ao texto a indispensável clareza, com o bom aproveitamento do vocabulário.
Oportuna a intervenção de Frei Betto, no seu livro "Ofício de escrever", ao afirmar que "Quem escreve sabe como as palavras gostam de brincar de se esconder".
9. Lendo, noite dessas, "Oscar Wild para inquietos", livro do escritor Allan Percy, deparei-me com esta frase, atribuída ao autor de "O Retrato de Dorian Gray": - "Só existem duas regras para escrever: ter algo a dizer e dizê-lo".
10. O irlandês Oscar Wild, poeta, escritor, jornalista, nasceu em Dublin em 1854 e morreu em Paris em 1900.
Sua frase, que transcrevi, responde, com precisão, a pergunta que me faço, ou seja, por que, diariamente, ponho meus incansáveis dedos sobre o teclado do meu Notebook e escrevo alguma coisa... uma crônica, por exemplo...
1. Com medo do vírus chinês, refugiei-me no meu gabinete, o meu canto, em minha casa.
Nesse bendito refúgio, navego, nestes últimos cinquenta dias, entre livros, músicas e um Notebook. Ah, ia me esquecendo: vez em quando, recebo a visita de um irrequieto bem-te-vi. Em outras crônicas, chamei-o de meu amigo Felicidade.
2. Nesse tempo de recolhimento compulsório, não faço outra coisa senão ler e escrever; mais escrever do que ler. Por que escrever mais do que ler? Respondo: aproveitando a enxurrada de assuntos, os mais diversos, que me chegam a todo instante. Os cronistas existem para registrar, com sua pena, o momento.
3. Escrevo todo santo dia. De onde tiro tanto assunto? Respondo: ouvindo rádio e vendo televisão; da manchete de uma gazeta; da leitura de um livro ou revista; da boca de um amigo; e até de um obituário. É, os mortos são notícias, e como são!
4. Ainda posso encontrar assunto na banca de jornal; na delicatessem onde compro pão; na porta da igreja onde rezo; numa esquina de minha rua; na indignação de um cidadão que passa por mim resmungando, esbravejando.
5. Se é meu dia de sorte, encontro assunto nos periquitos que, cantantes, cortam o meu céu; nos saguins, verdadeiros equilibristas, brincando nos fios elétricos; no arrulho rouco dos pombos enamorados; na traquinagem da criança do meu vizinho; no sorriso de uma mulher bonita que atravessa meu caminho sem me dar bolas...
6. A que hora escrevo? Há sempre aquela horinha em que o cronista se concentra para pôr no papel o que captou no correr das horas. Tem quem escreve belas páginas a qualquer hora do dia e da noite. Eu prefiro escrevinhar minhas crônicas à tardinha; de preferência, próximo ao pôr do sol.
7. Mas, de repente me faço esta pergunta: o que, afinal, me leva a escrever, todos os dias, uma, duas, até três crônicas? Por que essa mania de botar no papel, brincando ou brigando com as palavras, o que eu salvei, como dizia Josué Montello, "nos guardados" de minha memória; ou aquilo que acabara de tomar conhecimento?
8. Escrever não é tão fácil, como, aliás, muitos pensam. Além da preocupação com o vernáculo, é necessário dar ao texto a indispensável clareza, com o bom aproveitamento do vocabulário.
Oportuna a intervenção de Frei Betto, no seu livro "Ofício de escrever", ao afirmar que "Quem escreve sabe como as palavras gostam de brincar de se esconder".
9. Lendo, noite dessas, "Oscar Wild para inquietos", livro do escritor Allan Percy, deparei-me com esta frase, atribuída ao autor de "O Retrato de Dorian Gray": - "Só existem duas regras para escrever: ter algo a dizer e dizê-lo".
10. O irlandês Oscar Wild, poeta, escritor, jornalista, nasceu em Dublin em 1854 e morreu em Paris em 1900.
Sua frase, que transcrevi, responde, com precisão, a pergunta que me faço, ou seja, por que, diariamente, ponho meus incansáveis dedos sobre o teclado do meu Notebook e escrevo alguma coisa... uma crônica, por exemplo...