Simão Pedro- Um dia na terra.

Simão Pedro - Um dia na Terra.

Pedro andava muito agitado porque não conseguia entender os relatórios que as equipes de socorro espiritual enviavam da terra. Achava que os problemas não eram bem explícitos e que não focavam nas questões importantes. Fugiam dos objetivos propostos pelo Mestre. Atribuia muitas vezes à falta de experiência que tinham no trato de questões de relevância para os Céus. Não sabia como tratar o assunto com o Mestre Jesus.

Este, por sua vez, demonstrava tranquilidade e paciência na observância dos acontecimentos na terra. Coincidência ou não,o fato é que Jesus pediu a Simão Pedro para ele mesmo fazer uma verificação, já que os anjos estavam no auxílio das pessoas por todo o mundo, em função dos desequilíbrios que estavam ocorrendo de toda ordem.

Pedro, empolgado, aceitou de bom grado. Desceu todo feliz e veio aterrissar no Pelourinho.

Nos primeiros passos que deu ao chegar, Simão com aquelas alpercatas de couro, levou a maior topada no calçamento irregular, ocasionando lesão no dedão e queda parcial da unha.O dedo logo inchou e começou a sangrar. A dor era terrível. Pedro não sabia se pulava ou ficava quieto.

Após os primeiros momentos, buscou um lugar para sentar e avaliar melhor o que ocorrera.

Visualizou, ao longe, pequena praça arborizada e para lá se dirigiu mancando. As pessoas que se encontravam na praça observando o que havia ocorrido, o orientou para ir na UPA mais próxima para ser atendido. No caminho para o referido posto , entre um escorregão e outro, tornou a machucar o dedão que só piorava.

Pensava pedro “ Isso só acontece comigo!”. Cansado, buscou sentar próximo a um terreno baldio que havia no caminho. O local era um verdadeiro matagal. Assim ele pode relaxar e logo veio o sono.Recostou como pode e tirou uma pequena soneca no local. Com pouco tempo,apareceram algumas abelhas a voar no entorno de Pedro,uma delas veio pousar na boca do apóstolo que acordou assustado. No movimento, a abelha ferroou a língua do velho pescador da Galileia. Além da dor, uma reação alérgica se iniciou quase que imediatamente, provocando um inchaço na língua e impedindo que ele falasse.Lamentando tamanha sorte,se deslocou para um local mais movimentado em busca de ajuda dos que passavam próximo.

O pessoal, por sua vez, vendo as dificuldades do Pedro, tentavam entender o que havia ocorrido mas não compreendiam o que era dito por ele. Uns perguntavam se fora assalto,outros se estava com fome e Pedro, no seu desespero, tentava falar e só saiam ruídos ininteligíveis. Em um dado momento um dos transeuntes olhou para o pé e viu o estado do dedo. Procurou tranquilizar o velho pescador e disse que ia ajudá-lo. Viu ao longe uma ambulância e fez sinal para que parasse.O que foi prontamente atendido.

Meu senhor estou com um gaguinho ali com o dedo do pe quebrado precisando de curativos. Pode deixa-lo em algum posto no caminho para ele ser atendido?

Rapaz!! estou levando um paciente para o Aristides Maltez. Vai fazer uma quimioterapia. Se ele quiser deixo ele lá.

O rapaz voltou-se para o velho pescador e ajudou a se acomodar na pequena ambulância. Pedro entrou a contragosto. Permaneceu ao lado da maca do paciente todo espremido. Lá se foi o carro com os dois pacientes. Já mais calmo o velho pescador ficou a observar o senhor deitado na maca semiconsciente. Sensibilizado com a situação, fez uma prece amorosamente pedindo ajuda para aquela alma que ali se encontrava.

O tempo de permanência na ambulância foi curto. Assim que chegaram, o pessoal retirou o senhor da maca e o transportaram para dentro sem maiores questionamentos. Pedro ficou observando toda a movimentação. Acompanhou o senhor com os olhos até desaparecer. Olhou para o veículo e viu, no local onde havia a maca, uma pequena fita com o nome do paciente e a área que provavelmente ele iria. Área de quimioterapia. Pegou a pequena fita e se dirigiu ao local por onde o senhor entrou, com grande dificuldade por conta do inchaço do dedo. Lá chegando mostrou o papel a enfermeira, que ao receber, solicitou de imediato que ele fosse colocado em uma cadeira de rodas e encaminhado para o setor de quimioterapia. Ele tentava explicar o que estava ocorrendo e não saia voz, só ruídos que o pessoal não entendia. Mostrou o dedo do pé e ninguém dava atenção.

Chegando na recepção foi deixado em uma sala de espera. Ficou ali um bom tempo, até que um enfermeiro se aproximou dele e pegou a pulseira.O velho pescador tentava explicar o que havia ocorrido mas sem sucesso. Apontava para a boca e para o dedo insistentemente, porém não obtinha a atenção necessária. O pessoal continuava sem entender o que ele queria dizer. Cansado, ficou ali parado observando o ambiente.

Depois de algum tempo, a área em que estava ficou sem paciente. Todos foram atendidos menos ele. Foi aí que apareceu um enfermeiro de nome Sabino que se aproximou e buscou entender a situação. Pedro mais uma vez apontava para a língua e para o pé na busca de compreensão. O rapaz solicito, calmamente olhou para os pés e viu o dedo inchado e com a unha quase solta.Olhou também para a boca e viu a língua bastante inflamada.

Olha meu senhor, estou vendo um pequeno ferrão na sua língua. Vou buscar uma pinça para retirá-la. O senhor provavelmente está com o dedo fraturado e a unha com certeza terá que ser extraida. Vou pedir que passe pela avaliação do médico de plantão para dar andamento na sua situação, tudo bem? Pode aguardar um minuto? O senhor segura esse prontuário enquanto vou na enfermaria?

Pedro estava calmo e respondia com o movimento de cabeça para o gentil enfermeiro. Ele foi e voltou com uma pequena pinça o qual fez a retirada do ferrão da abelha. Colocou em um pequeno frasco e o entregou a pedro.

Quando o médico lhe chamar mostre a ele. O senhor pode ter tido reação alérgica ao inseto que lhe picou. Não esqueça de mostrar o dedão também. Vou na enfermaria devolver o material que peguei.Volto já.

Após a saída do rapaz, outra equipe o levou para a avaliação do médico. Lá foi encaminhado para a sala de raio x onde verificaram a situação do dedo. Fizeram a extração da unha e imobilizaram-no. Após passar pelos procedimentos, retornaram com ele para a sala de atendimento.

Pedro estava sonolento devido a alguma medicação que tinham usado e não demorou a dormir.

Quando acordou,reparou o curativo feito no dedo e a imobilização do mesmo. Não sentia mais desconforto. Percebeu também o prontuário que o enfermeiro havia deixado sob sua guarda. Acenou para uma enfermeira que passava e entregou o prontuário. A mesma pegou e se afastou. Alguns minutos se passaram desde a entrega do documento a enfermeira, quando chegaram dois auxiliares para coletar sangue.

Pedro tentou dizer que não estava ali para tirar sangue mas o inchaço da língua ainda o impedia de falar claramente. Apontava insistentemente para o pé numa tentativa de se fazer entendido. Os auxiliares acreditando que ele estava sentindo muitas dores solicitaram algo para ele tomar.

Senhor tenha calma - disse um dos auxiliares- já vamos lhe atender. Vamos tirar um pouco do seu sangue para exames e vamos lhe aplicar um remédio para aliviar suas dores.

Pedro, sob protestos, deixou que fosse retirado o sangue e na sequência aplicaram-no uma injeção sossega leão que fez com que o velho apóstolo dormisse como um cordeirinho.

Quando acordou, ja estava com a lingua mais desinchada permitindo articular algumas palavras. Não se encontrava mais na cadeira de rodas, mas em uma maca em um corredor que não conseguia identificar. Aguardou pacientemente a passagem de algum enfermeiro, o que não demorou muito.

Como vai senhor? Está com aspecto ótimo!!!

O velho pescador respondeu com um grande sorriso.

Está pronto para o exame?

Que… Que exame? Disse pedro de sobressalto.

Vamos fazer uma biópsia para verificar a sua situação. Não se preocupe! A equipe aqui é de primeira…

Com dificuldade o velho pescador voltou a falar:

Tem algo errado moço! Eu não vim para fazer biópsia. Vim para cuidar do dedo e da reação alérgica por conta de picada de abelhas.

Olha seu João, aqui na ficha…

Seu o que?..... João? Quem é João? Meu nome é Pedro! Não me chamo João!

Senhor, no seu prontuário está escrito João e vai fazer uma biópsia.

Meu amigo, há um engano. Não sou essa pessoa ai. Quero é ir embora. Por favor!!!

Aguarde um minuto que vou chamar meu supervisor para esclarecermos essa situação.

Dizendo isso,o enfermeiro saiu em busca de informações. Pedro por outro lado, deixou que se afastasse e tentou levantar-se. Percebeu que estava sem suas roupas. Estava apenas trajando um roupão hospitalar. “Ora essa!”. Onde botaram minhas roupas? E agora?

Ficou observando o ambiente em sua volta e percebeu que havia outras maca próxima da dele com um senhor a observa-lo sorrindo.

Pedro meio que constrangido perguntou: - Você sabe onde eles colocam nossas roupas meu bom homem?

O senhor sem deixar de sorrir, apontou para um corredor com vários armários.

Pedro agradeceu a informação e tentou se levantar mas sentiu vertigem e voltou a deitar-se. Nisso o pessoal chegou e uma das pessoas que vinham no grupo era o enfermeiro que havia tirado o ferrão da língua.

Hora, hora se não é o rapaz que ficou com meu prontuário lá embaixo no atendimento. Lembra-se de mim, senhor? Retirei o ferrão da sua língua. Quando voltei o senhor não estava mais lá.

Pois é. Me trouxeram para aqui. Não sou esse tal de João que tanto falam.

Sabemos disso. Seu João é aquele senhor ali na maca olhando para nós. Ele estava só aguardando esse prontuário chegar.

Graças a Deus! Tudo resolvido então. Posso ir embora?

tenha calma. Vamos preencher uma ficha para registrar seu atendimento aqui.Pode ser?

Pedro mais tranquilo, assentiu com a cabeça. Foi auxiliado a trocar de roupa e lhe trouxeram uma cadeira de rodas.

Entregaram uma ficha para que ele pudesse preencher e Informaram para aguardar em uma pequena sala até ter alta e poder sair.

Após preencher o formulário, entregou à recepção e ficou na sala aguardando ser liberado.Como ainda estava sonolento, resolveu tirar um cochilo.

Acordou com uns três enfermeiros ao seu lado.

Senhor Pedro iremos levá-lo para um outro ambiente para uns exames. O senhor pode nos acompanhar?

Para onde vão me levar? Não podem só me deixar ir embora? O que falta? Há alguma coisa errada?

Não senhor Pedro. É só rotina. Lá para onde vai, há profissionais mais capacitados para lhe atender melhor.

Atender de que filho? Não estou entendendo…

Precisamos que o senhor passe por uma avaliação psicológica com um especialista.

Porque? Não preciso. Estou bem. Não estou louco se é isso que querem dizer…

Bem senhor. Na sua ficha o senhor declara ser Simão Pedro, apóstolo de Jesus Cristo. Que veio fazer um relatório de como andam as coisas aqui em baixo. Sem falar na data de nascimento, endereço, nome dos pais, etc.

O senhor confirma isso?

oh meu filho! não tenho idade mais para mentir ou para informações levianas. Preciso sair e concluir minha tarefa antes que o mestre me chame.

Os três enfermeiros se olharam como que perguntassem o que fazer. De repente os três caíram em cima do pobre do Pedro, colocando um camisa de força e imobilizando o coitado. Não adiantou os protestos…

Lá se vai Pedro, sedado, para o Juliano Moreira.

O velho Galileu quando acordou, constatou estar em um quarto minúsculo, com a porta fechada, contendo uma pequena janela que mostrava o que parecia ser um corredor. Havia outra janela maior, com grade, onde visualizava um pátio. Dava para ver árvores e parte de um grande jardim. Após contemplar a paisagem, voltou a se sentar na cama e fez uma oração sentida ao criador, buscando o renovar dos ânimos. Nesse momento, os anjos vieram buscar Simão Pedro atendendo a pedidos do próprio Jesus.

Lá se foi o pescador para o encontro com o mestre. Não sabia o que dizer. Sua tarefa foi um verdadeiro fracasso. Não houvera tempo hábil de realizar a tarefa.

Jesus o esperava sorridente e de muito bom humor, como sempre, e ao ver o seu fiel discípulo, veio ao seu encontro e o abraçou amorosamente.

Pedro por seu lado, cabisbaixo, retribuiu o abraço do amigo sem coragem de olhá-lo de frente. Os dois permaneceram assim, por um bom tempo.

Jesus vendo o amigo cabisbaixo perguntou:

O que houve Pedro?

Estou triste mestre. Passei por umas vicissitudes lá embaixo….

Me conte!

Pedro contou com detalhes o que ocorrera com ele. Ao final se desculpou por não ter conseguido cumprir a missão que o mestre lhe confiara.

Pedro, você cumpriu com louvor a tarefa a ti confiada. Aliás, adoro quando você realiza uma tarefa. Você faz com tanta dedicação, se envolve com tanto esmero que se tornam verdadeiras aventuras! Fascinante seu relato!

Vamos dar uma olhada nas outras tarefas que temos.O velho apóstolo, de ânimo renovado, saiu conversando animadamente com o Mestre e pensando em nunca mais repreender os relatórios feitos pelas equipes de socorro fraternal.