Está decidido, não tem mais volta
Uma das primeiras associações conhecidas entre os meios de comunicação de massa e o suicídio vem da novela Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe Die Leiden, publicada em 1774.
Nesta novela, o herói dá um tiro no peito após um amor mal sucedido. Logo após sua publicação, começaram a surgir na Europa vários relatos de jovens que cometeram o suicídio usando o mesmo método.
Isto resultou na proibição do livro em diversos lugares. Este fenômeno originou o termo “Efeito Werther”, usado na literatura técnica, para designar a imitação de suicídios.
Encontrado sem vida em seu sítio em Rio Bonito, Rio de Janeiro, o ator Flávio Migliaccio cometeu suicídio, segundo informações da polícia, e deixou uma carta em que lamenta a situação do país e diz que a humanidade “não deu certo”.
A polêmica criada pelos policias que divulgaram fotos do ator em redes sociais, ganharam mais destaque do que o desabafo de Flávio e sobre os motivos que o levaram a tirar a própria vida.
Algumas organizações alertam para o perigo da cobertura sensacionalista de um suicídio, particularmente quando uma celebridade está envolvida. A cobertura deve ser minimizada para não disparar o gatilho em outras pessoas.
Manchetes de primeira página não são o local ideal para uma chamada de reportagem sobre suicídio, mas as cartas escritas pelos suicidas, quando inspiradas em sentimentos coletivos e humanitários, devem ser divulgadas.
Não podemos esquecer que a carta mais importante da República foi escrita por Getúlio Vargas.
Moscou, 1925, o poeta russo Serguei Iessiênin é encontrado com os pulsos cortados no quarto do Hotel Inglaterra. Ao seu lado foi encontrado o poema:
Até logo, até logo, companheiro,
eu te guardo no meu peito e te asseguro
que nosso afastamento passageiro
é sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nessa vida, não é novo,
tampouco há novidade em estar vivo.
Ricardo Mezavila