Ainda Queiman-se Bruxas

Dois seres sem qualquer pretensão, estão acomodados em um banco.

“Isto me faz lembrar dos tempos da Inquisição.” diz ele perscrutando céu.

“Como se recorda de algo que não viveu?” fala o outro mirando seus negros sapatos da moda.

Com sinceridade replica o outro “Não vivi, mas imagino como eram aqueles tempos. E com exceção da fogueira e tortura física, nada difere o passado do presente.”

“Tudo difere. Seis, sete, séculos.”

Abandona o fitar o céu, e contempla o que existe diante de si: Vasto campo ótimo para pastagem e um enorme lago. “Falo de questões técnicas. Se vasculhar o íntimo de cada acusação de heresia, e a forma como no presente as pessoas são achingalhadas, irá ver que tudo ocorre como outrora.”

“Pensa que não sei disto.” diz recolhendo os pés para debaixo do banco entulhado de poeira. Com certa doce de arrogância, continua “Concluí isto, muito antes de você. Os indivíduos não poderosos e sim influentes daquela época, viam algumas pessoas como um obstáculo em seu caminho. Não nos importa se este caminho era econômico ou social. O que importa é que neste meandro, os influentes os vexavam devido alguma características que possuissem ou por conta de alguma ação que faziam, em contradição ao senso comum... E o senhor, obviamente entende que o contrário ao comum é tido como diferente, em suma, o algo que caminha sozinho.”

“Por exemplo. Mulheres que não eram cristãs, viúvas, mães de muitos filhos, ou sem filhos. Muitíssimos ricas ou muitíssimos podres. Eram invariavelmente classificadas como bruxas.”

“Isso mesmo. Como eu disse, contradição ao senso comum. No caso da bruxaria, por conta do fato, de que os predicados que mencionaste, faziam com quê estas mulheres se destacarem, em meio a multidão.”

“E os influentes faziam com que a multidão emergida em pré-conceitos, lhes castigasem. Para que eles alcançarem seus objetivos. Resumidamente, Roma assassinando qualquer sinal de nova fé, demonstrando seu poderio e de brinde tornando ainda mais ferrenha a fidelidade de seus fiéis.”

Suas imaginações viajam para terras medievais, fazendo frias e duras analogias com seu contemporâneo.

O cérebro deste volta-se para o presente, espelhando-se no passado, e diz. “Fazendo de todas e todos horrendos pecadores.”

“Hereges que deveriam serem banidos da boa...”

“Puritana...”

“Magnífica. Sociedade.” estas últimas são ditas em tom de ironia.

Este outro também volta-se para o irônico e diz “Por isto, neste jogar de pedras, tudo continua igual. Você e eu, bem entendemos que sempre haverá em algum lugar alguém não irá nos aplaudir e este alguém será o nosso denunciador .” o outro também lhe olha nos olhos e balança a cabeça positivamente, e diz interrompendo-lo.

“Não se pode fazer nada sem se pensar no que outros irão pensar.”

Continua Leon, como se não tivesse sido interrompido. “Igualmente ainda somos perseguidos por alto-inquisidores. Que nos subjulgam, e não nos permitem sermos quem somos. Por fim, não importa-se os argumentos de defesa sempre o julgamento será contrário a persona.”

“No antigo passado queimavam-se pessoas, no recente livros. E em todos ideias, filosofias de vida.” conclui Gustave sorrindo. “Será isto, evolucionismo?”

“Só se for do retrocesso.”

Helena de La Dauphin
Enviado por Helena de La Dauphin em 06/05/2020
Reeditado em 06/05/2020
Código do texto: T6939151
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