CADA UM COM SUA DOR - EM SUA CASA!
Estava aqui comentando com a Gabi como é estranho tudo isso, toda essa atmosfera devido à essa pandemia, e como faz falta o encontro, a conversa lado a lado, o alvoroço de vozes disputando o turno de fala, todos querendo contar sua parte nas histórias. Era assim nos velhos tempos em que nos reuníamos por motivos vários, ou sem motivo algum, só pelo gosto de estarmos em convívio familiar. Refiro-me a “velhos tempos” porque seguindo a lógica da cronologia pode até parecer que é coisa recente, mas psicologicamente me sinto há séculos nessa situação perturbadora.
Esse pensamento me veio devido à tragédia que representou em nossas vidas a partida da minha cunhada (ainda estou tentando acomodar isso aqui dentro). Além da dor diante do inesperado, o choro e a lamentação se deu de forma isolada, cada um em sua casa, diferentemente do que é costume acontecer em nossa cultura, episódio que eu bem queria apagar da memória. Preferia estar em um pesadelo e viver a felicidade de acordar aliviada e, ao despertar, perceber que tudo estava normal no mundo exterior e que a confusão e as perturbações noturnas eram coisas da minha mente, que se perde em análises e preocupações antecipadas, impedindo-me de ter um sono sossegado.
Mas a verdade é que até hoje sinto falta daquele momento em que a família e os amigos se reúnem para dividir o sofrimento pela despedida, seguindo os rituais fúnebres, da fatídica notícia à missa de sétimo dia. Pode soar curioso sentir falta disso, já que nada mais representa do que tristeza, no entanto, é muito pior estar aqui, nessa dinâmica de interação virtual.
Apesar de pesarosos, cada etapa desses rituais acaba nos proporcionando a oportunidade de revivermos, juntos, memórias da pessoa de quem nos despedimos. É o momento em que cada um conta suas vivências com a pessoa, a última conversa, o último contato, a última foto postada nas redes sociais... é esse o momento em que vêm as perguntas aos montes, quando expusemos nossa curiosidade tentando saber como foi, desde quando apareceram os sintomas, sobre a internação, etc.
E é também nesse momento que nos abraçamos, nos damos as mãos e choramos juntos, a nossa e a dor do outro. Mas o que nos impõe essa pandemia é esse isolamento social, cada um em sua casa, e acaba que essa distância física torna as coisas ainda mais difíceis. E a gente, de família grande, que gosta de estar junto, que se reúne pra rodadas de café pra falar sobre coisas à toa, ou de assuntos diversos sem pauta prévia, sofre muito. Tomara que isso acabe, meu Deus.