Virei Labirinto de solidão nesses dias estáticos.
Se eu disser que virei um labirinto de solidão nesses dias estáticos. Se eu disser que espero o anoitecer para sentar na frente de casa para olhar as estrelas e tomar um vinho quando eu queria era dançar muito num boteco apinhado de gente. Se eu disser que as lives me cansam, ver a vida dos outros em qualquer tela me enfastia, assim como me deixa exausta as mil dicas para sobreviver em casa, não me adapto a nenhum delas. Sinto-me igual à música do Nando Reis, “eu não vou me adaptar, me adaptar, eu não tenho mais a cara que eu tinha…” No meu caso, não tenho mais a vida que eu tinha e preciso me adaptar, caso contrário a demência me alcança antes do coronavírus me pegar. Se eu disser que as noites caseiras sem mais dúbia sensação de que posso sair, ir a um boteco qualquer tomar umas cevas e jogar uns pensamentos inúteis com umas palavras úteis para alguém vai aumentando a minha cratera. Se eu disser que o cheiro da noite me chama quando as luzes naturais se apagam e as artificiais se acendem, então sento na minha rede e olho lua, só não uivo pois os vizinhos mandariam me interditar. Se disser, que viver sem menor possibilidade de sair livremente vai me consumindo. Se eu disser que as poucas vezes em que consigo sair no dueto: supermercado e farmácia, sou sufocada a uma máscara, abraçada a solidão e tremo a menor respiração por perto de mim. Se eu disser? Se disser que tudo vai passar e o verde da esperança vai nos alcançar e a noite... A noite vai me encontrar naquele boteco de sempre na Cidade Baixa.
( Cidade Baixa ou CB é o um mega bairro em que a boemia se encontra em Porto Alegre)