Reflexões Cotidianas
Em busca do "Paraíso".
Ana Luiza, era enfermeira em um dos hospitais mais precários da capital macapaense, mesmo sem o mínimo recurso para prestar um atendimento de qualidade aos pacientes, ela apegava-se a fé de que a sua força de vontade poderia "substituir" as medicações necessárias. Ela esgotava até suas últimas energias para "salvar" as vidas dos que por aquela casa de saúde passavam. O que ninguém imaginava era que por trás daquele jaleco branco, havia alguém gravemente ferido, só que por dentro. Acredita-se que a jovem Ana Luiza, dedicava-se exaustivamente aos pacientes, para em tese, salvar a si mesma e fugir de sua vida pessoal, claramente pior do que as salas precárias daquele hospital. Pode-se ainda deduzir que; ao "Doar seu sangue" na profissão, ela estancava suas hemorragias internas(feridas na alma). Pouco sabe-se da vida dela, tem-se que ela era "heroína" ao vestir seu jaleco, aliás, seu caráter profissional era tão alvo quanto a neve e, o branco de suas roupas. Conta-se nos corredores daquele hospital, que um rapaz aparentando ter aproximadamente 28 anos, sofrera um acidente, e deu entrada na Emergência com ferimentos gravíssimos. Longe daqueles que davam o caso como perdido, Ana Luiza apanhou gaze, alguns poucos frascos de soro, e pôs-se a limpar os ferimentos do rapaz. Enquanto outros profissionais ouviam apenas gritos de dor advindos do paciente em questão, Luiza ouvia traduzido no desespero daquele rapaz, as dores internas que havia nela, os 20 minutos de dor e agonia initerruptas daquele jovem, eram para Luiza um curta metragem de sua agonia, desespero e dor dos últimos anos. Mesmo com todo o esforço que a jovem enfermeira empregou àquele momento, a vida do rapaz foi-se esvaindo até esgotar-se em um último e desesperador suspiro. Para Ana Luiza, o silêncio pós morte significou bem mais do que simplesmente uma "vida perdida", houve paz após tanta dor e desespero daquele rapaz, e foi baseado nisto que ela decidira cessar a dor e o desespero que havia em sua alma. Leu-se nos jornais locais, que pela primeira vez, viu-se o jaleco branco de Luiza sujo de sangue, e não era de pacientes, era o dela. Luiza fez de uma arma, seu "acidente" fatal, e diferente do que ela fizera por outros, não havia ninguém para salvar sua vida.
(Hámilson Carf)