MEU FIAT 147
Eu fui proprietário de um fiat 147, azul noche. Comprei no Rio de Janeiro em 1979. Vim com ele rodando. Corajoso que eu era. No terceiro dia ele parou. Consegui chamar a assistência, na oficina derem o veredito: - Correia dentada.
Eu nem sabia o que era a tal correia. Sua função, segundo me explicaram, é acionar o comando de válvulas. - Ah é! E mais. Até o ano de fabricação 1977, era o caso, quando arrebenta a correia, podem entortar válvulas. O Cabeçote é alto e, quando as válvulas param, as cabeças batem. Foi que aconteceu. Quatro válvulas danificadas.
Mandei arrumar, dias depois capotei. Umas 3 ou 4 voltas. Não me machuquei. Ainda bem.
Mas o carro era que nem eu: econômico! Me adaptei tanto ao veículo, até parecia sob medida prá mim. Eu vestia, ou melhor: calçava ele. Simples. Pequeno por fora, de coração grande por dentro. As vezes reclamava, mas sempre atendia quando solicitado. Que nem eu!
Pouca tecnologia embarcada, nada de frescura, rústico, um cabrito no calçamento. Roncava bonito quando eu descia meu pé pesado. Queimava um pouco de óleo. De vez em quando esquentava o radiador. Completava com líquido, parava um pouco, refletia e seguia em frente sem problemas. Que nem eu!
Resolvi trocar as marchas sem usar embreagem, até que um dia fiquei sem a terceira. Prá que terceira? Passava da segunda direto à quarta e tocava em frente. Uns probleminhas de fechadura, máquina de vidro. No início começaram “uns grilos”, coisinhas batendo. Mas foi passando, a barulheira diminuiu. Tudo que estava solto caiu. Ficou só na carcaça. Que nem eu!
Tá certo, algumas vezes, quando precisei de mais potência na hora de subir a lomba, faltou aquela forcinha a mais na chegada. Mas só isso e nada sério.
Sempre que os amigos me sacaneavam eu tinha a frase pronta:
- Nunca me deixou na rua. Eu já deixei!
Porto Alegre/RS, 02 de maio de 2020
JORGE LUIZ BLEDOW – E-mail bledow@cpovo.net