Lágrimas de cebola
Hoje, cortando uma cebola, eu chorei, não chorei levado pela dor, não estava comovido, e nem sentia saudade, chorei com um ingrediente do bolo do mundo.
Intrigou-me o fato de que nenhum tubérculo, fruto ou legume me faz sorrir, mas uma cebola me fez chorar, e eu estou convicto de que sorrir é mais importante que chorar, mas chorar é mais fácil que sorrir.
Quantas sagas, quantas narrativas, quantos caminhos se atolam em poças, e quantas poças dessas são de areia e lagrimas, encravam, atolam e freiam, não só a caminhada, mas as convicções.
Mente Vinícius de Moraes quando diz que: ” No entanto é preciso cantar, mais que nunca é preciso cantar”. Vinícius, toma de novo seu verso, entristeça-se com uma cebola, pois, mais que nunca, é preciso chorar.
Batatas têm formato estranho, esquisito, parecem nuvens no subsolo, batatas podem nos instigar, nos levar a sorrir, mas, para sorrir, é preciso montar figuras, sugeridas por batatas: ”Vá plantar batatas”
Cebola marca território, seu sumo diz que passou por ali, disfarçou o verso de Pessoa, que diz: “Que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”, bandos de hipócritas choram lágrimas de cebola... Caetano, conta que ”lágrimas nos olhos de cortar cebola”.
Não quero batatas, batatas eu as quero fritas, tenho as nuvens que eu as posso moldar, de acordo com minha felicidade, e rir; e não quero mais a dor... tenho as cebolas que me fazem chorar, sem motivos.