O tempo nosso de cada dia
Para grande parte das pessoas é preciso acorda às 05 horas da manhã, quase todos os dias. Normalmente, almejam um feriado no meio da semana para dar uma trégua à rotina. Assim, reclamar da falta de tempo é tão trivial como comer e beber todos os dias.
Se houvesse “tempo” à venda em pequenos frascos, com certeza a fila para comprá-lo seria gigante. Estudantes deixam de estudar por falta de tempo, professores não corrigem as provas por falta de tempo, casais mal se veem por falta de tempo, livros não são lidos por falta de tempo. “Meu Deus! Eu queria tanto ter mais tempos…!”. Impossível prever o quanto essa frase foi pronunciada!
E, de repente o tempo que queríamos nos foi dado. Alunos de férias em pleno mês de março podendo dormir até tarde; pais e mães trabalhando em home office podendo acompanhar os filhos mais de perto; agora sim, há tempo pra cuidar da beleza, para beber durante a semana, para ler, fazer exercícios, cuidar dos filhos, assistir filmes e namorar. Pronto! O tempo chegou.
Tudo bem que esse tempo veio numa situação inóspita, reconheço. Mas… temos tempo. Todavia, descobrimos que nosso problema não é a falta de tempo, mas sim, as relações líquidas que vivemos, não suportamos mais tolerar a solidez das coisas, o duradouro é enfadonho, por isso nos assoberbamos com mil coisas. Precisamos de relações efêmeras para não ter que suportar os alicerces sociais daquilo que dura.
O tempo que nos foi dado veio nos mostra que filhos cheios de afazeres não perturbam os pais, que preferem passar mais tempo nas redes sociais a conversar com eles, e que encher a agenda de trabalho dá significado à vida vazia de elos verdadeiros.
De repente percebemos que o tempo é e sempre será o senhor da razão. Ele nos mostrou que precisamos dar um tempo de nós mesmos. Ao se perceber que a vida é finita, já não dar mais para empurrar com a barriga o que não nos faz feliz. E, só por mais uns instantes queremos que o tempo nos dê mais um tempo.
Depois de certo tempo juntos, casais já querem dar um tempo um do outro; que os filhos voltem logo pra escola e o trabalho nunca foi tão valorizado. Como sempre, a incompletude humana mostra sua face; agora que temos tempo, sabemos que nos falta a liberdade, ela faz o resto valer a pena. De que vale o tempo se não há liberdade?
Até a leitura deixou de ser prazerosa diante daquela angústia de saber que o mundo não está girando, mas capotando. A certeza que temos é que tudo é equilíbrio, tempo demais angustia, tempo de menos sobrecarrega. Achar o ponto certo é o segredo do tempo.
Obrigada! Mozaniel Almeida pela interação com esta bela poesia do Padre Frei Antonio das Chagas (1631-1682)
Se houvesse “tempo” à venda em pequenos frascos, com certeza a fila para comprá-lo seria gigante. Estudantes deixam de estudar por falta de tempo, professores não corrigem as provas por falta de tempo, casais mal se veem por falta de tempo, livros não são lidos por falta de tempo. “Meu Deus! Eu queria tanto ter mais tempos…!”. Impossível prever o quanto essa frase foi pronunciada!
E, de repente o tempo que queríamos nos foi dado. Alunos de férias em pleno mês de março podendo dormir até tarde; pais e mães trabalhando em home office podendo acompanhar os filhos mais de perto; agora sim, há tempo pra cuidar da beleza, para beber durante a semana, para ler, fazer exercícios, cuidar dos filhos, assistir filmes e namorar. Pronto! O tempo chegou.
Tudo bem que esse tempo veio numa situação inóspita, reconheço. Mas… temos tempo. Todavia, descobrimos que nosso problema não é a falta de tempo, mas sim, as relações líquidas que vivemos, não suportamos mais tolerar a solidez das coisas, o duradouro é enfadonho, por isso nos assoberbamos com mil coisas. Precisamos de relações efêmeras para não ter que suportar os alicerces sociais daquilo que dura.
O tempo que nos foi dado veio nos mostra que filhos cheios de afazeres não perturbam os pais, que preferem passar mais tempo nas redes sociais a conversar com eles, e que encher a agenda de trabalho dá significado à vida vazia de elos verdadeiros.
De repente percebemos que o tempo é e sempre será o senhor da razão. Ele nos mostrou que precisamos dar um tempo de nós mesmos. Ao se perceber que a vida é finita, já não dar mais para empurrar com a barriga o que não nos faz feliz. E, só por mais uns instantes queremos que o tempo nos dê mais um tempo.
Depois de certo tempo juntos, casais já querem dar um tempo um do outro; que os filhos voltem logo pra escola e o trabalho nunca foi tão valorizado. Como sempre, a incompletude humana mostra sua face; agora que temos tempo, sabemos que nos falta a liberdade, ela faz o resto valer a pena. De que vale o tempo se não há liberdade?
Até a leitura deixou de ser prazerosa diante daquela angústia de saber que o mundo não está girando, mas capotando. A certeza que temos é que tudo é equilíbrio, tempo demais angustia, tempo de menos sobrecarrega. Achar o ponto certo é o segredo do tempo.
Obrigada! Mozaniel Almeida pela interação com esta bela poesia do Padre Frei Antonio das Chagas (1631-1682)
Conta e Tempo
Deus pede hoje estrita conta do meu tempo.
E eu vou, do meu tempo dar-Lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo fazer conta,
Hoje quero fazer conta e não há tempo.
Oh! vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passa-tempo.
Cuidai, enquanto é tempo em vossa conta.
Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.
Deus pede hoje estrita conta do meu tempo.
E eu vou, do meu tempo dar-Lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo fazer conta,
Hoje quero fazer conta e não há tempo.
Oh! vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passa-tempo.
Cuidai, enquanto é tempo em vossa conta.
Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.
Imagem do Google.