Coronavírus

Pouco se conhece de uma assolação tão grande pela qual o cearense está passando. No Ceará, conforme bem lembra o amigo, historiador e acadêmico Paulo Neves, vemos crises humanitárias por meio das antigas secas no sertão nordestino... Fortaleza, no dia 10 de dezembro de 1878, há 143 anos, foi palco de uma grande tragédia humanitária: o segundo ano dos três anos de longa seca, flagelados pelas ruas, a fome, as condições sanitárias criaram um ambiente para a proliferação de doenças, entre elas a epidemia da varíola. (Jornal O Povo) . Foram mais mil mortes só em um dia, conhecido pelo “O Dia dos Mil Mortos”. Esse acontecimento teve repercussão internacional à época e o escritor português Guerra Junqueira (1850-1923), maior destaque de escritores do Realismo, escreveu o poema Fome no Ceará, o qual retratava a dureza da grande seca.

Hodiernamente, com a crise do coronavírus, podemos dizer que nosso estado passou e está passando por um momento bastante difícil. Causa-nos pavor os acontecimentos sobre esse tal coronavírus: as informações que nos chegam pelo mundo são horripilantes. Na Itália, país que lidera mortes causadas pela pandemia, caminhões do Corpo de bombeiros levam centenas de mortos para a incineração, já que os cemitérios tradicionais não suportam a grande quantidade de corpos.

Nos países europeus e na China, principalmente, têm nos mostrado como a situação é crítica e, consequentemente, ensinados os protocolos que os países devem seguir no combate ao vírus. No Brasil, que já é o mais atingido do continente latino-americano, sabemos da grande dificuldade que existe no serviço de saúde, o que certamente tem causado maior pânico nas pessoas quando do contágio em maior escala. O mundo tem nos ensinado que o isolamento é talvez a única e maior alternativa, já que não se tem vacina e a contaminação mais acentuada ficaria muito pior no atendimento aos doentes, o que levaria o sistema de saúde a colapsar.

Daí a importância de seguir medidas duras que o governo local vem tomando sobre as atividades comerciais e de circulação de pessoas. Por outro lado, têm profissionais que não podem deixar de trabalhar, aqueles servidores de serviço essencial à população. A esses profissionais deixamos nossa gratidão, pois o risco à que se colocam são maiores e não se sabe quando são infectados.

A história da humanidade sempre nos tem ensinado que essas crises passam, mas também deixam suas aprendizagens. Uma pandemia desta proporção e com riscos iminentes de perder a vida, tornamo-nos mais sensibilizados à causa humana, mais solidária porque lidamos com um inimigo invisível e letal.

Aqui não existe classe social, ninguém está totalmente imune a ele, e é justamente o sentimento de irmandade que se torna determinante no combate ao vírus. Precisamos mais que nunca dessa corrente de solidariedade e esperança. Portanto, em situação de grande crise, o conceito de pecado capital, os vícios humanos, são flagrantemente confrontados.

É muito duro, por conta o isolamento, não visitar parentes, é duro deixar a convivência com os amigos de trabalho, das crianças na escola, porém é muito gratificante saber que é ato humanitário e respeito à vida do outro; é muito difícil, para vários profissionais, ter de ir trabalhar, aumentar a possibilidade de contrair o vírus - e passar a seus familiares -, mas é uma atitude de extrema necessidade da sociedade, pois sem estes profissionais a situações tornar-se-ia caótica.

A esperança de ver tudo isso passar, a força da corrente humana que nestas horas aflora, sempre serão mais fortes do que todas as lutas que virão.

Manoel Serafim

Filósofo

ManoelSerafimSilva
Enviado por ManoelSerafimSilva em 01/05/2020
Reeditado em 24/05/2022
Código do texto: T6934095
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