Um dia desses, em uma aula qualquer...
Estamos em mais um dia do Trabalho, mas vivenciado de um modo diferente do comum. Passamos atualmente por um período de quarentena, lutando contra um inimigo invisível: o Covid-19 ou Coronavírus, como preferirem, o qual já nos trouxe muitas dores, problemas e desolação.
Essa situação inusitada me fez lembrar um fato engraçado e, ao mesmo tempo, interessante, sobre o qual ainda não estive inspirado em escrever. Creio que hoje seja o momento oportuno para isso... Até mesmo porque recordar é reviver e há fatos os quais vale sempre a pena trazer à tona.
No ano passado, em meu último ano de graduação em História, estava realizando meus estágios de regência em uma escola estadual. Eu havia combinado com a docente titular que trabalharia nas aulas de três turmas dos sétimos anos o conteúdo de Reforma Protestante durante oito aulas em cada classe – ou seja, duas semanas –, sendo seis delas de embasamento teórico sobre o assunto e duas com a realização de atividades avaliativas. O estágio foi realizado de tal modo que me possibilitassem cumprir as obrigações acadêmicas e, ao mesmo tempo, respeitasse o currículo escolar a ser cumprido pela instituição.
No geral, as atividades ocorreram mais ou menos do modo como programado. Uma conversa ou outra entre os discentes, mas nada que interferisse ou prejudicasse o desempenho das turmas como um todo. Entretanto, houve uma sala em que aconteceu uma peculiaridade.
Eram nas duas últimas aulas do referido estágio, no momento da aplicação da atividade avaliativa. Todos os alunos estavam em completo silêncio – o que de fato não era algo muito comum, mesmo em dias de provas. De repente, escuta-se uma voz bem baixa ao fundo da classe:
– Pai-nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso Nome...
Nesse momento, um aluno levanta-se abruptamente, coloca as duas mãos na cabeça e diz em voz alta, num tom de censura:
– Meu Deus do céu! Não é possível! A pessoa passa duas semanas atrapalhando o professor a “dar” as aulas e chega na hora da prova começa a rezar um “Pai-nosso”. Você tá pensando o quê? Tá achando que Deus vai mandar uma luz do céu que vai entrar pela janela, descer na sua cabeça e lhe dar as respostas das perguntas? Pois eu digo pra você, pode parar de rezar! Deus não vai fazer isso não!
A turma toda começou a rir, inclusive eu e a professora titular da turma. Não teve como negar, a situação era extremamente cômica, ainda que um pouco séria, talvez. Faltava apenas quinze minutos para o sinal do intervalo, foi impossível continuar as atividades naquele momento. Então tivemos que dar continuidade apenas após o retorno.
Sinceramente, não sei por que justo hoje me lembrei dessa situação, mas, de qualquer modo, ela me coloca a pensar: como é fantástico ter o privilégio de poder trabalhar com aquilo que realmente gostamos de fazer. De fato, ser professor nos dias de hoje não é uma tarefa fácil, mas a mim tem proporcionado experiências incríveis as quais estão me ensinando a ser uma pessoa cada dia um pouco diferente do que eu era antes.
Às vezes me amedronta a possibilidade de um dia talvez não conseguir exercer minha profissão devido aos empecilho a ela impostos atualmente. Verdadeiramente, acho que seria muito trágico caso isso um dia ocorresse. De qualquer modo, creio que o importante seja não desistir, seguir com fé e ir tentando evoluir para o meu próprio bem e o do próximo.