"A ESCOLHA DE SOFIA". CORONAVIRUS.
Tinha um amigo, já falecido, muito próximo, nefrologista e pesquisador de nomeada, com raízes e palestrante no exterior, que me disse faz anos: Celso, é duro você fazer seleção de quem vai ou não morrer. Ele, professor em universidade para residentes, tinha que orientar a “Escolha de Sofia” no Brasil para determinar quem ia ou não para a máquina de diálise, filtrar o sangue nos rins para excretar os tóxicos. Eram poucas as máquinas no Hospital/Universidade.
Foi assim na Itália e em outros países diante do colapso do sistema de saúde na atual pandemia; melhorou agora.
Não existiam ventiladores suficientes para oxigenar os pacientes, demanda agora distensionada. É “demanda X número de ventiladores”. E ocorre a escolha de Sofia. Estamos nessa iminência ou quase no Brasil. Ao que se deve? Com ou sem isolamento a varredura da “praga chinesa” ocorrerá. Basta ser um singelo observador. Ficarão resistentes os que têm maior imunidade. Por isso jovens também falecem e muito idosos não, contrariando os padrões do ataque virótico, que já se sabe é sistêmico. Até neurônios são atacados. Uma séria doença que tem paradoxos, alta transmissibilidade e baixa letalidade. O problema é ter assistência disponível.
É a equação, sendo certo que o isolamento minimiza, mas não evitará a progressão quase geométrica no pico que vai encenando esse quadro aterrador no Brasil. As estatísticas e o analógico padrão empírico antecedente na Europa clássica mostra essa cena. Vejo todo o dia o mapeamento da John Hopkins. Só a barreira sanitária minimizará, e a vacina quando descoberta e testada trará segurança. Quando? Difícil situar.
O resto são muitas drogas com alguma eficiência ou não. O mais importante e será por muito tempo é o uso de máscara e a padronizada e veiculada higiene, e evitar aglomerações.
E então impõe-se a “Escolha de Sofia”.
“Quando houver um grande fluxo de pacientes e uma pessoa internada não responder a um tratamento, disse a entidade, a decisão de colocá-la sob cuidados paliativos "não deve ser adiada".
Podem parecer decisões drásticas, mas, em uma situação como esta, há uma completa saturação dos recursos de UTI, que se cria um "gargalo" no atendimento à população”, explica Jaques Sztajnbok, médico supervisor da unidade de tratamento intensivo do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Entidade de referência.
“Não há como ampliar a estrutura desse tipo de serviço para atender 20 mil pessoas de uma só vez. Então, você precisa analisar quem tem mais chance de sobreviver. Isso assusta e pode parecer cruel, mas é absolutamente racional", afirma Sztajnbok.
"Se você escolher tratar o paciente 'errado', vai usar muito tempo e recursos com alguém que não chegará a ser salvo e deixará de atender duas ou três outras pessoas, que vão morrer (pela falta de atendimento). Em uma situação assim, é melhor salvar um do que nenhum."