30/ABRIL/1981 - UMA FACADA SIMULADA


Era véspera do Dia do Trabalho.
Pra quem sopesa coincidências, bem que podia ser um seis de setembro, a véspera do Dia da Independência, não?!...  Antevéspera de debate em ano de eleição.
Igualmente, para quem pratica simulações, todas as vésperas são iguais em borbulhos de sangue, que, ou não existe ou, paradoxalmente, escapa das veias dos próprios malfeitores.
O feitiço, às vezes, vira por cima das vespas aninhadas ou  manadas mandadas.
Ainda não descobri o porquê, ou a mania, de nossos algozes tanto preferirem atacar nas vésperas dos feriados mais lembrados ! . . .
Lembro que a ditadura foi implantada na madrugada de um Primeiro de Abril, mas os ditadores insistem que foi na véspera...
Tudo com sangue agendado.
Pois é !...  O dia 30 de abril de 1981 era uma dessas perigosas e assustadoras vésperas.
Uma multidão comemorava, alegremente, já de véspera, o seu dia tão esperado: o Dia Primeiro de Maio, o Dia do Trabalho e dos Trabalhadores.  Trabalhadores?!... Ah, sim, eram muitos, à época !
Mesmo a passos tímidos, também ensaiava-se - aqui, ali - o movimento pelas "Diretas Já".
Pleiteava-se, ansiava-se a redemocratização do país.
E os trabalhadores lotavam todo um pavilhão do Riocentro, o segundo maior centro de convenções da América Latina (com área de 10 hectares - aproximadamente dez campos de futebol, juntos), lá  pras bandas da Barra da Tijuca - bairro de Camorim - Rio de Janeiro.
Muita alegria, mas ninguém dali pressentia que era véspera da morte de alguém que ia ficar na história.
Quem?!...
Pelo que (sagaz e sutilmente) a ala radical da ditadura planejou, era o dia da morte de muitos - e véspera da prisão e tortura dos que acaso sobrevivessem
E a culpa seria atribuída aos esquerdistas, comunistas, terroristas...
Todos aqueles subversivos seriam sacrificados e pagariam com sangue a horripilante tragédia humanitária.
. . . . .
Dessa vez - talvez somente dessa vez -, o tiro dos que só sabiam atirar saiu pela culatra.
Tivessem atirado no alvo certo, ainda hoje estaríamos sob  o regime ditatorial e "et coetera" e tal...
.   .   .
De um lado, evento dos trabalhadores em andamento.
Doutro lado, bem ao lado, no estacionamento, também em andamento, um atentado sem culpados.
De repente, camufladamente, uma bomba é atirada por sobre o muro e explode junto à miniestação de eletricidade daquele complexo.

"Adélio, seu maluco, quem não sabe esfaquear não pega na faca!"...

Houve falha da parte do "Adélio" que atirou a faca, ou melhor: ...do "Adélio" que atirou a bomba. 
A intenção era cometer o crime sob um amplo apagão. 
Como planejado pelas vespas malfeitoras, ao mesmo tempo outra bomba deveria explodir no pavilhão onde suas presas se divertiam e se aglomeravam.
Mas a bomba explode, um pouco antes e dentro de um carro esportivo - PUMA - parado ali perto, no espaçoso estacionamento daquele complexo.
Explodiu no colo e matou o seu armador, sargento Guilherme do Rosário. 
Feriu gravemente o capitão Dias Machado, que amava armar armas, e que observava o trabalho sentado ao lado.
Como já deixei claro:
"Não causam horrores bombas armadas e atiradas por terroristas amadores".
Conforme Golbery, não se tratava de terrorismo, não!... A intenção era só acabar com aquele insultuoso show, em que se apresentariam os melhores artistas, todos esquerdistas, baderneiros, terroristas, comunistas...
A bomba - depois Dias Machado confessa - seria atirada por mascarados, na escuridão, em meio à multidão...
Uma calculada cena de terror, mas a tragédia dessa véspera não se configurou.
Houve falha também daqueles "Adélios" amalucados, ligados ao CIEx e ao SNI, armadores amadores de artefatos  exterminadores.
O que foi, quem foi, como isso aconteceu?...

É tempo de ditadura, então: "Cale-se!"

De imediato, mesmo com as falhas cometidas e com a autoria evidenciada, o SNI culpa as "Genis" de sempre, as  organizações da esquerda, e abre um inquérito Policial Militar. 
Mais tarde o caso é arquivado, saindo condenado apenas o capitão Dias Machado por homicídio culposo.
Esse inquérito posteriormente fracassou no seu todo, diante dos falsos testemunhos do general Newton Cruz e do coronel Freddie Perdigão (comandante daquela macabra operação).
Queriam dar outra conotação a uma operação igualmente fracassada.
As evidências apressaram a renúncia do Chefe da Casa Civil, general Goubery do Couto e Silva.
Militares que transitaram pelos setores mais radicais de nossas Forças Armadas, agora reformados, nunca se conformaram com o nosso país redemocratizado.
Lamentavelmente, vemos, hoje, suas crias fanatizadas imbuídas do mesmo "pensamento enfardado" e atuando nas redes sociais.
Pior:  usam e abusam de "fake news" inventadas e ainda ganham eleições furadas com facadas simuladas.
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Mas, tudo passa nessa avenida da vida: 
- os explosivos letais falham;
- as facadas simuladas não sangram;
- a caneta na mão de quem não escreve, não serve;
- por fim, os que se diziam messias milagrosos já não o são, por falta de imaginação e sustentação.
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Amanhã será outro dia...
Amanhã será nosso dia.
Não o comemorem na véspera e

TENHAM UM TRANQUILO DIA DO TRABALHO ! . . .


                                                  (fernandoaquinofreire - 30/abril/2020)   


 
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 30/04/2020
Reeditado em 10/05/2020
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