Batman, Super-Homem, Joaquim, Moro
O que se passou com Sergio Moro é uma versão – bem piorada, aliás – de um processo que vimos antes, com menor amplitude, agora, se que observa com as lentes do tempo – acontecer com o ex-ministro Joaquim Barbosa, do STF.
Importa pouco discutirem-se as características de ambos – é notável a superioridade intelectual de Barbosa – mas buscar um ensinamento que a situação pregressa nos dá.
Um era Batman, outro Super-Homem, ambos pretensos e pretendendo-se super-heróis.
Barbosa, destituído do cargo e do poder da cátedra no STF, transitou – em parte, sim, por vontade própria – para a obscuridade e sua inaptidão para a vida política acabou por afastá-lo de aventuras eleitorais.
Moro também chegou aos holofotes com o uso abusivo e vaidoso da toga e não vacilou em transferir-se para o Executivo na trilha do poder pelo qual, desde muitos anos, fazia seu função judicial servir de gazua.
Abandonemos, confiando na inteligência do leitor, as considerações sobre seus “feitos heróicos” e nada, nada mesmo, neste quesito retira de Moro os superpoderes que teve, consumando a obra de destruição da política que o primeiro Cavaleiro das Trevas tentou.
Afinal, Moro exibiu a cabeça de Lula, o mal dos males, para ele.
Como, para isso, teve de cortar ou permitir que se cortassem outras e tornar fanáticas suas legiões de admiradores, acabou levando-se a algo que não pretendia: ao fenômeno Bolsonaro, ao qual, com a rapidez e ousadia dos oportunistas, não hesitou em aderir-lhe, mesmo a custa de interromper sua carreira profissional. Dos princípios já se despojara antes.
Agora, porém, parece – e quase aposto – algo mais irá se somar às mórbidas semelhanças entre ambos.
É que como heróis que não construíram suas imagens com a luta, mas com a mise-en-scène de um espetáculo, ao perderem o figurino com que lhes vestia o cargo, perderam, também, o encanto ilusório dos personagens que encarnavam aos olhos do público.
Com os farrapos de seus poderosos trajes, Moro ainda sobreviverá por algum tempo mas, para quem se recorda dos velhos quadrinhos, parece restará ao nosso remake de Superman apenas a Fortaleza da Solidão.
Fernando Brito Via Diário do Centro do Mundo