A casa da rua dois

E lá estava ela sozinha novamente.

Ela ja esteve sozinha assim há muito tempo atrás quando sua moradora partiu para o mundo espiritual.

Os novos moradores que se instalaram cuidaram bem dela, a aumentaram, reformaram e fizeram com que ela se tornasse um lar aconchegante.

Um casal casal problemático e um menino. Era isso que ela abrigava todos os dias até que com o passar do tempo, mais um menino surgiu.

Ela acompanhou aquelas vidas por dez anos. Viu muitas coisas. Viu a esposa cheia de sonhos e aspirações tornar-se a mulher estressada que já estava cansada de tudo; viu o marido tão trabalhador e prestativo tornar-se um agressor ciumento; viu o menino mais velho, roliço e sem jeito, tornar-se uma garota destemida e sexy; viu o bebê pequeno e silencioso tornar-se um pré adolescente super dotado de inteligência.

Dentro de sí ela guardava cada segredo, cada questão mal resolvida, cada palavra de despreso, cada grito, cada tapa, cada dor... Também guardava as alegrias, as brincadeiras, as confraternizações, as juras de amor.

Ela viu quando cada um perdeu a vontade de viver lá, quando eles não conseguiram mais viver em conjunto.

Todos se foram e ela precisou ficar sozinha novamente. Abandonada, suja, bagunçada, cheia de móveis e eletrodomésticos e lotada de lembranças que construíram quatro vidas.

Ela espera seu destino, não sabe se será ocupada novamente, demolida ou vendida. Só permanece lá, sozinha, fechada rodeada de mato, parecendo sombria, localizada na rua dois.