Minha divindade mora ao lado
Minha divindade mora ao lado
Miragem é apenas uma ilusão, uma quimera; anjo não, anjos existem, ainda que não tenham sexo, não tenham idade ou forma definida, mas, em potencial, existem.
Já assisti a um filme por diversas vezes, atraído pela protagonista, que tem um sorriso, que tem uma forma de ser, que tem um poder de convencimento, que me arrastam. E anjos existem em quantidades, pois já assisti a diversos filmes atraído por anjos, por meninas que carregam tudo o que eu espero... de um anjo.
Anjos são virtuais, têm condições de ser, mas nem sempre o são, envoltos por auras brilhantes, os anjos alumiam, nos fazem ver um mundo melhor, nós elegemos nossos anjos, eles condizem com os nossos ideais, nós os encontramos em filmes, em livros e do outro lado da rua.
Quantas vezes repetimos em sonhos a mulher que vimos em um filme? Inúmeras vezes reconstituímos cenas vistas nas telas, e nos colocamos ao lado da menina que produz sonhos.
Os anjos celestiais vivem no céu, nos protegem, evitam acidentes, e não nos deixam bater a cabeça, e como somos ingratos com esses anjos, nunca rezamos para eles, sempre, em nossas orações, nos dirigimos a uma entidade hierarquicamente superior. Os anjos da terra, das telas, e do outro lado da rua nos colocam a imaginar “loucuras”, como diria Rita Lee.
Os anjos existem, mas são relativos a sonhos, oníricos, e devem ser mantidos no mundo de Morfeu, de onde não devem ser tirados, pois, geralmente, resultam em desilusões.
Os anjos não devem ser trazidos ao nosso cotidiano, não devem frequentar nosso dia a dia, não são divindades de alta patente, mas ocupam outra dimensão. Já busquei me encontrar com mulheres que roubei das telas...e me decepcionei: a aura, o encanto, o sorriso e tudo é efeito especial, maquiadores montam anjos, criam artefatos para mexer com nossa imaginação, na realidade os anjos não são anjos.
O gestual, a suave ironia, a magia que nos seduzem são frutos de pesquisas, de análises para que saibam o que cabe em nosso imaginário, e quando me encontrei com um anjo, que eu mesmo santifiquei, na rua vi que ele era mais um pedestre, mais um mortal, e, por isso, desmontei o sonho, a menina perfeita, em potencial, não se concretizou quando atravessou a rua.
A experiência me aconselha a não me encontrar com mitos, para que eu não me decepcione mais, afinal a minha vizinha é muito mais completa... e não é virtual.