TEMPOS DIFÍCEIS!
Olha a que ponto chegamos! Outro dia vi uma mosca bem de pertinho. Ela esfregava as patinhas numa consumação de limpeza que dava gosto. Se bobear tava até usando álcool gel. Nesse mesmo dia precisei quebrar a quarentena e ir ao banco. Peguei luvas, máscara, álcool e um bom livro. Por pouco não esqueço meus boletos infectados. Quando a gente desenvolve costumes radicados a muitos anos fica difícil nos livrarmos deles assim de uma hora para outra. Então, no saguão de espera, eu me peguei em uma situação inusitada: tirava a luva, baixava a máscara, lambia o indicador, virava a página, subia a máscara, passava o álc ool na mão e botava a luva novamente e devorava as páginas do livro, sempre repetindo esse ritual. Uma senhora que estava atrás de mim foi se aperreando de tal maneira que eu cheguei a pensar que iria me dizer alguma indignidade e eu só esperando a oportunidade de replicar uma piadinha infame de meu amigo Batoré:
- Bonito é o teu né? (ela tinha o cacoete de ficar estalando a dentadura com a língua!) Pois é! Nesses tempos tão difíceis, tenho avisado aos amigos que no caso de eu venha fechar os olhos subtamente e ninguém puder se despedir de mim, não tem problema não. Eu volto pra dar um abraço em cada um de vocês.
PS. Sempre escreve algo do cotidiano com algum fundo verdadeiro. Desta vez simplesmente deixei fruir. Só pra descontrair.