O velório
É tarde, sol quase posto, você está deitado...
Seu sono é profundo, o último de todos.
Olho pra você, você não me vê...
Pessoas te cercam, procuram aproximação...
Rios correm sobre faces...
Lenços sofrem encharcados...
Gritos, um alvoroço...
Gemidos, pesares incontidos.
Ele não fica incomodado.
Ficou surdo, não pode ouvir.
Flores sobre ti exalam perfumadas...
Perdeu o olfato, não pode sentir.
Tanta correria, tanto enfado.
Ele ali, preso naquele espaço...
Sobre leito solteiro, madeira por inteiro.
Ninguém jamais poderá te acordar...
Logo mais, por quatro será levado.
A morte ceifou outro, que há pouco estava vivo.
Palavras de despedida são ditas...
Cortina de madeira se fecha suavemente...
Eu, ali sentado no canto, não acreditando.
Reportando aquela triste cerimônia.
Na mente, uma certeza recorrente:
Na morte vemos o fim de toda gente.