O pioneiro
Estou de nome novo, ainda moro no mesmo lugar; tenho os mesmos vizinhos, atendo por Roberto, mas se alterou todo o contexto.
Eu vivo sozinho, tenho como contumaz ouvinte dos meus casos...eu mesmo.
Minha liberdade me dá autonomia até a farmácia, a padaria e aos endereços dos médicos que me assistem.
Meu telefone não toca, ele funciona sim, mas como todos os telefones, ele necessita que tenha alguém, do outro lado da linha, querendo falar comigo...e ele não toca.
Meus hábitos não se alteraram, tenho, como obrigação, jogar água nas plantas, e alimentar os peixes, no restante do dia estou livre.
Agora meu viver virou padrão de vida, uma pandemia fez obrigatório o meu jeito de existir: isolado, sem diálogos, sem um campo maior, para mostrar que posso ir.
Um vírus fez com que o resto do mundo se confinasse como eu já estava confinado.
Virei modelo de vida; não expandi perspectivas, pelo contrário, eu as restringi, agora o mundo vive, individualmente, como eu.
Eu já vivia esquivo, isolado, sem qualquer motivo para isso, e como o resto do mundo se viu obrigado a me imitar, estou me sentindo um pioneiro, e pensando em adotar um pseudônimo, afinal sou o exemplo vivo de como vive agora a humanidade...vou mudar de nome.