O RELÓGIO DE PÊNDULO
O senhor Charles deixou a biblioteca bastante chateado, saiu e deixou a porta aberta. Eu gritei e ele imediatamente voltou, mandei que fechasse a porta, ele obedeceu. Charles é o mordomo da minha casa. Não ia com a minha cara, eu sabia disso, mas adorava perturbá-lo, às vezes ria para disfarçar, mas tinha hora que estava com o diabo no couro. Enfim o silêncio depois que se foi, era hora de meditar (de mentirinha, gostava mesmo era do silêncio da biblioteca), de pensar bobagens, ler alguma coisa ou simplesmente cochilar no sofá. Na minha frente o antigo relógio de pêndulo, ficava olhando aquele troço prá lá e prá cá, de um lado para o outro, movimentos intermináveis. Ele era que me fazia dormir.
Bia entrou, ficou parada na porta me olhando (abriu a porta tão devagar que nem percebi logo, depois que a vi), perguntei o que queria, "nada!" - disse sorrindo e foi embora fechando a porta. Respirei aliviado, essa minha irmã é muito chata, vive me espionando.
Olhei o relógio de parede, ele me fascinava, aquele balanço do pêndulo era o máximo, me impressionava. Me fazia dormir na maioria das vezes. Eu gostava dele, mas tinha hora que não gostava, ele não me atendia, eu queria que ele parasse o pêndulo, mas ele não parava. Eu forçava minha mente para pará-lo e nada acontecia, ele continuava naquele vai e vem, eu me chateava... e dormia.
Certa tarde ele parou, eu disse "ôba!" Até que enfim ele me obedeceu. Com meu riso sarcástico fiquei a observá-lo, estava ali paradinho (pensei: será que quebrou? Ou faltou corda?), diante de mim, sob o meu domínio. Quiz levantar do sofá para ir até ele, não consegui, me esforcei e nada, continuava ali com a bunda no assento. "Que houve?" - perguntei a mim mesmo. Mais uma tentativa para levantar, mais outra. Nada. Depois de mais alguns esforços quase consegui, mas terminei caindo ao chão, eu havia cochilado, estava sonhando. Levantei, olhei o velho relógio de parede, lá estava ele, imponente, trabalhando, com seu pêndulo prá lá e prá cá.