FUGACIDADE
Fugacidade
Regina Barros Leal
Como não sentir as ondas fugazes do tempo que passa e nem conseguimos perceber! São movimentos velozes e nos deixam perplexos! Ouvir o vento uivando na janela semiaberta do quarto! Perceber as folhagens irrequietas, enroscando-se nos jarros da varanda bem cuidada. Sentada, olhando a singular circunstância, ela presencia o momento fascinante, inebriada pela irreverência da natureza. Queda-se. Vê o tempo em sua majestade. Pura beleza!
Na solidão abismal de alguns homens; na vastidão do deserto de almas aflitas; nas fraturas incuráveis dos preconceitos; no calor abrasador de um abraço amante; na espantosa esperança que mobiliza sonhos impossíveis; na fé dos crédulos; na imensidão profunda do mar, na devastadora violência dos homens em guerra, enfim... O que me tranquiliza é o tempo. Sabe-se que é varredura. Que tudo passa. É efêmero, mas deixam marcas que permanecem em nossa memória. São circunstâncias fugazes, entretanto perenes. Eis o paradoxo da memória, frente ao tempo.
Em muitas coisas! Na solidão de alguns, no abandono de muitos, na desilusão do outro, na frustração que nos acompanha, nas decepções da vida. Enfim, isso é viver. No entanto, também penso na alegria de estar bem, nos amigos fiéis, no amor, nos irmãos companheiros, nos filhos e netos, na existência humana. Mas há dias que... Meu Deus!
Estou hoje ressabiada de tanta notícia triste! Não podemos esquecer que somos finitos, efêmeros, neste universo manifestado. E que só vale à pena a vida, se fizermos o bem, a caridade, a solidariedade, pois assim, alcançamos o Ser na sua imortalidade divina.
Essa verdade, este mistério, me consola.