Eu tenho 61 anos, nasci numa comunidade católica, filho de pais católicos, batizado na igreja católica, criado por avós católicos, praticantes da doutrina católica. E por obediência, acompanhava eles, nas missas, rezas e eventos religiosos da comunidade. Temendo e acreditando em DEUS. Crescido, abandonei a doutrina (não por completo). Mas o meu temor a DEUS e a minha Fé me acompanharam na vida. Caía, ficava triste, mas levantava. E vinha o pensamento: se estou de pé novamente, é porque uma mão me ajudou a levantar e só pode ser uma mão Divina. Agradecia a DEUS e seguia em frente. Caía novamente, aquilo me abalava, me deixava desanimado, mas não perdia totalmente a fé. Me levantava, novamente agradecia... e prosseguia.
Aprendi com meus avós, a não viver com a "boca torta" pedindo (eles diziam, que quem pede, sente-se tão humilhado, desequilibrado, que não tem controle dos lábios e a boca entorta. Nunca reparei.), só em último caso. De modo, que só pedia a DEUS pra me levantar, quando sentia que o tombo tinha sido grande. E Ele, como todas as vezes que eu pedia, me levantava. E eu de novo agradecia. Sempre agradeci, agradeço! Por tudo. Até as pequenas coisas, pois tudo tem um por quê. Mesmo que só ele saiba porque. Ah, como eu disse, não pedia muito, era raro pedir. Só se fosse o último recurso. Mas assim que vi os meus contemporâneos, irmãos e até uns mais jovens do que eu, abraçando seus netos, encasquetei que queria uma neta e comecei a pedir a DEUS que me desse essa neta. Pensava, se é gostoso abraçar as sobrinhas, imagine uma neta. Mas a cada aniversário que minha filha completava, a cada dia dos pais que ela me visitava, a cada aniversário meu, que ela comemorava comigo e não me dava a notícia, nem esperança de uma neta, me deixava apoquentado, desacorçoado, cético! Mas continuava pedindo, desanimado, mas pedia. Isso eu pedia, sem nem lembrar, dos ensinamentos dos meus avós. Afinal eu estava pedindo era pra DEUS e ele com sua bondade, não iria reparar na minha " BOCA TORTA". Mas, desanimado como eu disse, já tinha desistido, “jogado a toalha”. Em alguns momentos, pensava que DEUS não tinha me ouvido, ou que não estava nem aí pros meus apelos, ou que eu não tinha estrutura, que não tinha condições, que não tinha merecimento...
Mas tudo tem seu tempo. DEUS não abandona seus fiéis. De modo que na noite de 10/08/2019, célebre e inesquecível véspera do dia dos pais, chega a minha filha e me presenteia com um sapatinho vermelho, sapatinho de menina. Era a senha! Eu finalmente iria ser avô. E de uma menina, meu sonho!
Nesse dia eu gritei, berrei, chorei e de joelhos “na laje fria, de uma Santo André gelada” agradeci a DEUS, pela graça alcançada, pela bênção recebida. Pedi perdão por algumas vezes desconfiar da sua Bondade, mas a minha fé, aumentou mais ainda e me deu a certeza que ELE me ouviu. Sempre me ouviu. E se demorou pra me atender, foi porque... Ah, só ele sabe! Como também só ele sabe, o tamanho da minha alegria, da minha felicidade.
S. Paulo, 27/04/2020