CARICATURAS CUBISTAS DE NESTOR TANGERINI 2

CARICATURAS CUBISTAS DE NESTOR TANGERINI

Nelson Marzullo Tangerini

Inspirado pela Revolução de 1930, Tangerini desenhou, em estilo cubista, os revolucionários e os deportados deste grande acontecimento histórico nacional. Essas caricaturas, impressas em cartões-postais, podem estar agora guardadas em coleções particulares, como as dos senhores Álvaro Contrim [o Álvarus] e José Pereira de Andrade, advogado com escritório no centro do Rio.

Após a morte de Álvarus, não sei para onde toda a sua preciosa coleção.

Sobre o senhor Dr. José Pereira de Andrade, nunca mais tive contato com ele.

É provável que existam outros cartões com caricaturas cubistas dos Revolucionários de 1930. Em nossa casa havia algumas, que conseguiram escapar do temporal de janeiro de 1966, acontecimento trágico já citado anteriormente numa outra crônica. Por pouco, todo o material literário estaria também perdido, como aconteceu com alguns de seus esquetes escritos para o Teatro de Revista.

Anteriormente, achando-se um sujeito sem sorte, Tangerini chegou a pensar em queimar toda a sua obra. Mas foi impedido por Dinah, sua esposa, que, sorrateiramente, salvou todo o trabalho artístico do marido, antes que o fogo viesse a consumi-lo.

Após enviar alguns cartões da Revolução de 1930 a Carlos Drummond de Andrade, com rapidez o poeta me respondeu, me informando que o caricaturista Álvarus Álvaro Cotrim, gostaria de me conhecer e obter mais informações sobre o trabalho de Nestor Tangerini, que ele já conhecia de revistas e jornais.

Eis a carta de Drummond:

“Rio, 28 de janeiro, 1981

Prezado Nelson Tangerini

(...)

Os cartões que você gentilmente me ofereceu, eu os passei ao Alvarus, em cujas mãos me parece que ficarão mais bem guardados. Ele tem uma bibiloteca especializada maravilhosa, e é um historiador da caricatura brasileira. Assim, me parece que o nome do seu pai, como caricaturista, será melhor lembrado se aquele material for incluído no grande acervo desse meu amigo.

(...)

Cordialmente, o abraço de

Carlos Drummond de Andrade”.

Em sua casa, na Gávea, foi recebido pelo senhor Álvarus, também caricaturista, que ficou com alguns cartões-postais de meu pai.

Posteriormente, em 1984, fiz uma exposição de Caricaturas Cubistas no Arquivo Geral do Rio de Janeiro, noticiada pelo Jornal do Brasil, o que me levou a dar entrevistas para a Rádio Jornal do Brasil [Programa do Saroldi] e Rádio Mec.

A notícia da exposição Caricaturas Cubistas foi parar, não sei como, na redação da Folha de S. Paulo, que deu uma breve nota sobre o evento.

Sempre antenado, meu amigo Valdeci Mendes de Carvalho, agora antigo morador da Rua Cruz e Sousa, no Encantado, recortou para mim esta nota, publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 25.04.1984:

“CARICATURA DE POLÍTICOS

Caricaturas Cubistas de políticos feitas por Nestor Tangerini, desenhista, autor teatral e figura boêmia do Rio, desde a década de 20, estarão expostas, a partir de hoje até o dia 16 de agosto, na Galeria Augusto Malta, do Arquivo Geral do Rio de Janeiro”.

Sobre o senhor Dr. José Pereira de Andrade, colecionador de cartões-postais, especificamente, que ficou com alguns exemplares, após saber, pela imprensa, que, na exposição, havia cartões, afastou-se definitivamente, tão logo conseguiu o que pretendia.

Após publicar a sonetos, letras de músicas, trovas e esquetes que escreveu para o Teatro de Revista, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, sigo para uma outra empreitada: publicar um livro de Caricaturas Cubistas de Nestor Tangerini, nas revistas OQA e O Espeto, revista de humor e sátira, onde o artista escrevia com diversos pseudônimos, como Conselheiro Armando Graça, Conselheiro XX Mirim, Malba Taclan, José Oitiçoca, Dom T, Domt, T, e Humberto dos Campos.

Muitas vezes também assinava suas produções como Tangerini, N Tangerini ou Bergamota.

Nos anos 1920, quando morou em Niterói, RJ, e participou do movimento literário que ficou conhecido com a Roda do Café Paris, Tangerini militou ativamente na imprensa fluminense, publicando sonetos e crônicas na Royal Revista, na revista Ilustração Fluminense e nos Diário Fluminense, O Fluminense e o jornal O Canastrão,

Sua imensa obra, embora desfalcada, vem sendo resgatada pelo memorialista que ora vos escreve.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 26/04/2020
Reeditado em 27/04/2020
Código do texto: T6929715
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