Migalhas de pão

Há tantos lugares que não são conhecidos. Há tantas histórias que jamais foram contadas. Há muitos amores que nunca foram declarados. Quero dizer, tem pessoas que têm medo de se entregar, que por tanto medo de se deixarem aprofundar demais em algo acabam por ser pessoas rasas e superficiais. Não me entenda mal, não estou dizendo que temos que viver sempre em risco, que sempre temos de usar todas as fichas numa única jogada, ou puxar todas as cartas de uma vez. Mas uma vida em que você nunca sentiu segurança o suficiente pra ser quem você é cem por cento, foi realmente uma vida boa? Nascemos pra ser intensos, pra ser inteiros. Ser um todo, e não fração.

O numero que vem depois do oito tem o mesmo valor do que o que antecede o oitenta. Meios termos são vazios disfarçados. São enganosos. Falsos preenchimentos de espaços. Para dar sensação, falsa sensação. Apenas isso. Sensação. O que não é viver é apenas sentir. O sentir sem o viver está numa posição inferior ao oito do que qualquer outro sentimento. É um “vazio mais completo“.

Com tudo isso pode se dizer que intensidade não pode ser resumida, não é força. Intensidade é composição. É construção. É constância É conjunto. Pois se for apenas com uma única certeza é facilmente derrubada. Talvez pela incerteza. Pela insegurança. Pela saciedade. Pelo sim e pelo não que são oferecidos por aí.

Trata-se de ser tudo. Ser todo. Porque se for pra ser algo, que seja por inteiro. Aqui amigo, não há lugar para migalhas. Pois já tive fome por muito tempo. E depois que se prova o maná, não se quer mais saber sobras que sempre estiveram no cardápio como prato principal.

Mais uma vez digo, não digo que se deva dar um passo na escuridão no primeiro dia, mas algum dia esse passo tem que ser dado. Pois se arrastar para onde sempre há luz, fará com que se viva num grande círculo “seguro”, o que é uma prisão lindamente disfarçada de liberdade. Você pode ir onde quiser ir, desde que sempre esteja à vista daqueles que estão levantando o muro, o muro que te deixará “seguro”, mas que conta seus passos. Não há limites. Não há limites.

Entenda-se. Conheça-se. Doe-se a si mesmo e viva. Viva de modo que possas olhar pra trás e ver que o caminho ainda continua marcado, que dessa vez ninguém comeu os pedaços de pão. Não porque haja medo de quem deixou as marcas no caminho. Mas para que outro possam se guiar pelas migalhas de pão que ficaram na estrada. Que na verdade são pedaços de quem os deixou, por se doar, por se dedicar, por se devotar a tal ofício. Mesmo que ele lhe tenha sido confiado sem prece, mas ainda assim ele trouxe consigo muito outros meios que proporcionam.