O reencontro de Tidin com os seus pais

Erotides Agostinho de Araújo, de 83 anos, conhecido pelos irmãos, filhos e sobrinhos como Tidin, foi o filho mais velho da prole de oito filhos vivos dos meus já falecidos avós, que foram agricultores na zona rural de Lagoa Seca, próximo a Campina Grande.

Tio Erotides cuidava da esposa Rita, de 89 anos, que adoecera de alzheimer. Há quatro anos ele dava banho, fazia a comida e dava as refeições de colher em colher para ela, que não tinha mais reflexos para isso. Ao passar do tempo ela se tornara uma criança que ele cuidava depois de também ter criado seis filhos. Rita, que sempre foi uma mulher altiva, de muita fé e inteligência excepcional, tocava piano nas missas da Igreja que frequentava e também fazia parte do coral. Apesar dessa vida cheia de atividades, ela sucumbiu à degeneração das faculdades mentais, o que lhe foi tirando a memória. Aos poucos já não lembrava dos parentes mais próximos e dos fatos mais conhecidos pela família.

Para aliviar o peso dos dias, Tidin tinha a companhia inseparável de Bob, um cãozinho poodle que estava com ele há mais de doze anos e era a sua distração e maior alegria, nos momentos difíceis em que a cabeça parecia não aguentar o peso do corpo fatigado pela rotina e o esquecimento dos tempos mais amenos.

Um dia, ao abrir o portão de casa, meu tio deixou Bob escapar sem perceber e a partir de então seus dias foram se consumindo pela angústia de não ter mais o companheiro ao lado. Porém ele não perdeu as esperanças de reencontrar seu amigo cão.

Certa vez, Tidin foi procurar Bob numa tarde de um dia da semana que não se sabe ao certo qual, pois naquele tempo de quarentena todos os dias pareciam iguais. As pessoas não sabiam mais a diferença entre segunda, sexta-feira ou domingo, porque todos ficavam em casa e não saíam para trabalhar, resguardando-se do mal do vírus covid-19, que assustava a todos. Nesse dia, mesmo com a restrição, ele foi em busca do seu velho companheiro, andando pelas ruas ao redor da sua casa. Ao dobrar uma dessas esquinas, ele avistou uma aura envolta a uma neblina que circundava aquela rua e lá estava o cachorrinho, que parecia ter esperado pelo dono no mesmo lugar por dias.

Tidin nunca havia dobrado aquela esquina em especial, porque achava que aquele lugar era muito perigoso, por isso tanto tardou para encontrar Bob, que estava ali aguardando para vê-lo todo esse tempo. O cachorrinho fez uma festa animada, balançando o corpinho e o rabo que parecia uma hélice tamanho o movimento de alegria ao ver Tidin, que se abaixou dizendo: - Bob, meu filho, por onde você andou? - Abraçando o poodle e afagando seu pelo fofo e branco.

Bob lambeu o rosto de Tidin e logo em seguida fez um chorinho que sempre fazia quando queria ir para o chão. Tio Erotides entendeu a mensagem do canino e o pôs na calçada. De imediato o cãozinho pôs-se a andar em direção ao final da rua, balançando o rabinho e olhando para trás como se chamasse o dono para segui-lo. Tidin foi e alguns passos adiante todo o lugar foi ficando mais claro e mais claro até converter-se em um aspecto de nuvem. Em meio a névoa foi surgindo a fisionomia de uma senhora baixinha, de cabelos brancos e rosto fino bastante marcado pela idade, era dona Josefa, minha avó, e ao seu lado estava um senhor alto, também idoso, magro e de rosto sisudo, meu avô Zé Agostinho.

Há cerca de dois meses Bob havia subido para o céu, com o intuito de voltar e levar Tidin para o descanso eterno, ao lado dos seus pais. Titin percebeu que havia cumprido com seu tempo na Terra e, grato por tudo o que tinha amado e vivido, sorriu e lançou um olhar de despedida para a casa que se distanciava de sua visão. Ao reencontrarem o filho, meu avós deram um abraço cada um em um lado dele e seguiram caminhando até sumirem os três, junto com o cãozinho, dentro da nuvem branca.

Stephany Eloy
Enviado por Stephany Eloy em 24/04/2020
Reeditado em 25/04/2020
Código do texto: T6927499
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