ESTOU NO TREM
Estou no trem; indo à um lugar que gosto... No fone de ouvido é entoado: Sarabande de Bach da Suite for Solo Cello No. 1 em Sol Maior. Desde então fico observando as pessoas (agora com máscaras), os jovens falando de traições. - Não sou jovem. Como é sábado alguns avós estão com netos. Pais dormindo até tarde. Alguns indo dormir agora, outros lutando para ter o que comer! Ainda no trem vem o pico de Johann Sebastian Bach; flutuo e aumento o som no fone e, recebo a notificação de que é prejudicial ao meu ouvido um tom elevado demais, ignoro a notificação e aumento. Quero ouvir o silêncio de várias formas humanas mantendo o bom e velho "mundinho" rodeado até mim, envelopado por mim, desço na estação de que preciso, tiro o fone e o celular é guardado ao bolso. Vem a premissa de Ludwig Wittgenstein latejando na cabeça "Quanto mais eu sei mais eu sou". Os limites da minha linguagem são os limites da minha existência, - Hoje estou maior, não por ser um jovem de 23 ouvindo Bach, Debussy, Mozart ou Tchaikovsky, meu mundo anda maior pela minha existência e por onde tenho transmitido tudo isso, por tentar transformar algo ruim em Literatura por isso escrevo. Outrora eu nem pararia para observar ou para escrever e agora me sinto parte e na obrigação de tudo o quanto, fazer esses que correm parar e me ler, a troco de nada pois não reconhecem as coisas boas da vida como vai reconhecer uma boa leitura. Volto o fone, não ligo para avisos e me mantenho atento somente à comunicação visual dos lugares, fecho a cara e mudo de Bach para Chopin; me desligo de tudo e sou interrogado apenas por minha consciez. Amanhã cresço um pouco mais.